Este ano, militares da GNR já encontram terrenos limpos quando vão sensibilizar os cidadãos. População queixa-se de falta de mãos para limpar.
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É a terceira vez que a dupla da GNR Catarina Santos (cabo) e Luís Constantino (guarda-principal) vai, nos últimos 15 dias, à freguesia de Calde. O destino é Paraduça, uma aldeia com cerca de 200 habitantes, maioritariamente reformados, onde não há uma mercearia.
Para garantir a informação onde muitas vezes não chega, e com o objetivo de prevenir incêndios florestais, a GNR tem no terreno, desde 24 de fevereiro, a operação "Floresta Segura 2020", com várias equipas do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) e da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) que verificam o cumprimento da lei no que toca às faixas de gestão de combustível. A lei dá até 15 de março - próximo domingo - para que os terrenos estejam limpos.
Multas a partir de abril
"Nesta primeira fase é importante dar informação, tirar dúvidas, indicar em que consiste a limpeza e ao que a lei obriga", explica a cabo do Núcleo de Proteção Ambiental de Viseu. Depois, a partir de 1 de abril, os militares que têm os locais georreferenciados, com recurso a um tablet, regressam. E, se houver incumpridores, serão autuados (ler caixa).
Mas, este ano, há uma novidade. "Noto que as pessoas já não estão à espera para limpar. Por iniciativa delas, fazem os trabalhos, o que é muito bom. É isto o que pretendemos", realça a cabo Catarina Santos.
Luís Constantino, da UEPS, está convicto de que há um antes e um depois das mortes e prejuízos materiais causados pelos incêndios de há três anos. "As pessoas assustaram-se com os incêndios de 2017 e temem que possa voltar a acontecer", acredita.
"Eu tenho um pinhal, onde não há casas, mas está limpo. Era assim que o meu marido queria para evitar incêndios e é assim que vai continuar a ser", conta à GNR uma viúva que comprou uma capinadeira para cortar o mato que serve às galinhas depois de triturado. Mas onde vive, na Rua do Pombal, a zona está em infração.
De um lado, há habitações e, do outro, num terreno em declive, há pinheiros, alguns inclinados, quase que abraçam as casas. A faixa não cumpre os 100 metros de distância ou os 10 metros entre as copas das árvores e descobrir o novo proprietário pode levar vários dias.
"Muitos terrenos estão abandonados, há muita emigração nestas aldeias ou então os donos já morreram e os herdeiros residem longe", explica a cabo Catarina Santos.
João Paulo Oliveira já limpou o pinhal em frente à casa. "Não é por causa da GNR", assegura. "Faço a limpeza porque já deixei de ir de férias para ficar a guardar a casa em altura de incêndios", relata o construtor civil que comprou uma máquina para fazer o serviço. "Não há gente para contratar", lamenta o morador de 47 anos, um dos mais novos de Paraduça. Os militares estão cientes das dificuldades: "Já me perguntaram se lhes quero limpar os terrenos, que me pagam", conta o militar Luís Constantino.