Para quem vive nos centros urbanos, fazer uma despedida digna a um "pet" nem sempre é fácil. As alternativas são parcas e as que existem podem não ser acessíveis a todos. Há três cemitérios próprios no país e algumas funerárias. Há lápides e fotografias dos animais que partiram, com mensagens de carinho, amor e dedicação dos donos. E não são só de cães e gatos que o fazem, mas de coelhos, hamsters e furões.
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A comparação entre um animal de estimação e um membro da família é feita por muitos. Mas o certo é que, na hora da morte, nem sempre existe a possibilidade de os donos darem uma despedida que considerem digna aos seus animais. Principalmente nas cidades. A falta de quintais ou de pinhais para proceder aos enterros - como acontece, apesar de acarretar riscos para a saúde pública, nos meios mais rurais - obriga à procura de serviços fúnebres especializados. Só que muitas autarquias não os têm à disposição e resta, por isso, contratar empresas que se dedicam, em exclusivo, a funerais de "pets" [animais de estimação]. Os preços, esses, é que nem sempre são acessíveis a todos.
Portugal tem, pelo menos, três cemitérios de animais - no Jardim Zoológico de Lisboa, em Santa Maria da Feira (pertença da Junta de Freguesia de Nogueira da Regedoura) e em Lagos (da Câmara). Cada um com custos associados. E há Centros de Recolha Oficiais, da responsabilidade das autarquias, que também recebem animais particulares para incineração, mediante o pagamento de taxas, que podem ascender, por exemplo, aos 30 euros. Mas essa é uma opção que, além de não estar disponível em todos os municípios, nem sempre é vista com bons olhos pelos donos, por não saberem, ao certo, o destino final daqueles que veem como amigos de uma vida.
Muitas vezes, ligam-nos porque telefonaram para as respetivas câmaras ou juntas de Freguesia e não lhes souberam dar resposta sobre o que fazer a um animal que morreu
Assim, têm surgido, nos últimos anos, várias empresas que se dedicam a prestar uma última homenagem aos animais de companhia, sejam de quatro patas ou não. É o caso da PerPETuate, fundada, em 2016, em Lisboa, por Nuno Gonçalves e pela mulher, Raquel, atualmente presente nas principais cidades portuguesas do litoral. "Há falta de alternativas. Muitas vezes, ligam-nos porque telefonaram para as respetivas câmaras ou juntas de Freguesia e não lhes souberam dar resposta sobre o que fazer a um animal que morreu. Aos fins de semana, então, nem se fala, porque os serviços públicos estão fechados. Além disso, quando se fala em incineração, fala-se de queimar animais juntamente com outros resíduos. Isso não é digno, para quem ama os seus animais como um membro da família", explica Nuno Gonçalves.
Os serviços da PerPETuate incluem a recolha e transporte do corpo do animal (em menos de seis horas, em qualquer local do país), além da sua cremação e emissão de documentos e certificados. Há a possibilidade de optar pela cremação coletiva - com preços a partir dos 40 euros - ou individual. Nuno Gonçalves revela que "60% dos clientes optam pelo pacote "premium", em que a urna com as cinzas, após cremação individual, se transforma em árvore e cujos preços vão dos 265 aos 400 euros".
"As pessoas podem ficar com a urna ou plantá-la num talhão específico que temos, no Parque Natural Sintra-Cascais, para ajudar à reflorestação. Os donos dos animais ficam de coração cheio. É uma homenagem que fazem a quem lhes deu tanto amor", sublinha. A empresa, que foi a "primeira funerária animal ecológica do país", lançou, há cerca de um ano, as joias com ADN dos animais, com preços dos 180 aos 320 euros.
Procura crescente dos serviços
No caso da Funerária Animal, em exercício desde 2008, também em todo o território nacional, a cremação individual é igualmente a solução mais requisitada. "São sobretudo as áreas urbanas que mais procuram as nossas soluções. Há uma procura crescente por estes serviços, que, além da cremação e entrega das cinzas, inclui um memorial online para uma despedida digna", refere Nuno Rosa, da Stericlycle, empresa que detém a funerária.
E não são só os donos de cães e gatos que o fazem, mas de coelhos, hamsters e furões. A Funerária Animal também disponibiliza serviço de enterro, apesar de não ser muito procurado. "Dos poucos que acompanhámos, e que ocorreram sobretudo na região de Lisboa, os enterros foram realizados em locais aprovados", ressalva.
Para quem a cremação não é uma opção, o enterro dos animais surge, efetivamente, como alternativa. Mas mesmo esse tem custos, que podem não ser suportados por toda a gente. No Jardim Zoológico de Lisboa, enterrar um animal de estimação custa 132 euros e a renovação do "aluguer" 94.
Mais a norte, em Nogueira da Regedoura, Santa Maria da Feira, existe outro dos poucos cemitérios de animais do país. Foi construído, pela Junta de Freguesia, em 2011. Rui Rios, presidente daquela Autarquia, explica que o espaço funciona "por concessão". "Qualquer pessoa que o solicite pode usufruir dele. Tem um custo de 100 euros, por um período de três anos. Mais 25 euros, de caução, para ter acesso à chave do cemitério", conta.
As sepulturas são em betão, subterrâneas, não havendo qualquer contaminação, por se tratar de decomposição aeróbia, feita por circulação de ar
Segundo o autarca, a infraestrutura, com capacidade para mais de 100 animais, já tem 60% do espaço ocupado, mas existe a possibilidade, caso seja necessário, de ampliação. São, maioritariamente, pessoas "de fora de Nogueira da Regedoura, de zonas mais urbanas, como Gaia ou Espinho, que o procuram", diz. E as sepulturas são "em betão, subterrâneas, não havendo qualquer contaminação, por se tratar de decomposição aeróbia, feita por circulação de ar", sublinha.
Ali, em Nogueira da Regedoura, a homenagem aos animais de companhia assemelha-se muito à que é feita, tradicionalmente, aos seres humanos. Há lápides e fotografias dos animais que partiram, com mensagens de carinho, amor e dedicação, por parte dos donos. Há quem, com frequência, se dirija lá para colocar flores nas sepulturas. E quem ainda chore por ter perdido um amigo de quatro patas, passe o tempo que passar. Afinal, para muitos, os animais de estimação são tão importantes como um familiar de sangue. São companhia e lar. Mesmo depois da morte.