Este ano, cerca de 20 mil famílias sobre-endividadas pediram ajuda à Deco devido à subida do custo de vida. As dificuldades não atingem apenas as famílias que ganham salários baixos mas também agregados familiares de rendimentos mais altos.
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Nos últimos anos são muitos os pedidos de ajuda que têm chegado à Deco: a pandemia, a guerra na Ucrânia e a subida da inflação são as principais causas. Até ao final de agosto, cerca de 20 mil famílias pediram ajuda. No entanto, a caracterização das famílias que procuram auxílio está a mudar.
"Temos famílias a pedir ajuda que têm baixos rendimentos e que estão com muitas dificuldades em suportar as despesas normais de uma família, como pagar a conta do supermercado, da farmácia, da água, do gás ou até a renda da casa. Estas são famílias que recebem reformas abaixo do salário mínimo nacional ou o salário mínimo nacional", começa por explicar Nátilia Nunes, coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco.
Por outro lado, já há famílias com rendimentos mais altos que não conseguem fazer face às despesas, nomeadamente do crédito de habitação. "E também temos famílias a pedir ajuda que têm rendimentos mais elevados. Estas famílias têm, não só créditos de habitação, têm vários créditos, e não estão a conseguir pagar as prestações", afirma Natália Nunes.
Pedem ajuda mais cedo
Ao contrário do que aconteceu entre 2008-2012, atualmente as famílias pedem ajuda mais cedo. "Nesse período, quando as famílias nos pediam ajuda, aquilo que verificávamos é que, em regra, já estavam em incumprimento e, as soluções já eram soluções muito mais drásticas. Neste momento isso não acontece. As dificuldades existem mas as famílias estão a antecipar as ajudas", explica a coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco.
De acordo com Natália Nunes, atualmente as famílias têm mais informação e há mais mecanismos que aproximam os consumidores e os bancos. E, além disso, entre 2008 e 2012 as famílias tiveram grandes diminuições de rendimento e as "taxas de desemprego eram muito elevadas". "Não havia inflação elevada como existe agora, mas havia desemprego elevado. Neste momento, as famílias são confrontadas com aumentos muito grandes das prestações mas que têm algum rendimento, que permite ter algumas estratégias para conseguir otimizar o orçamento e não se entrar em incumprimento", explica a coordenadora do gabinete de proteção financeira da Deco.
Apoios a falhar
As medidas criadas pelo Governo para ajudar as famílias que estão em dificuldades, como o apoio do pagamento da renda e a bonificação dos juros, estão "a falhar", alerta Natália Nunes. "Relativamente ao pagamento da renda há falhas que estão a deixar de for a famílias que cumprem todos os requisitos para ter acesso ao apoio e não estão a ter", afirma.
Para a coordenadora do gabinete de proteção financeira de Deco é importante que se olhe para estas falhas e que se tente corrigir. "Antevemos que o próximo ano possa ser muito complicado para quem tem arrendamento porque os valores de atualização poderão ser elevados", sublinha.