Procura de auxílio aumentou na pandemia, tal como as doações e ações solidárias. Peditório na rua arranca este domingo.
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Os pedidos de ajuda à Cáritas Portuguesa aumentaram com a pandemia. As necessidades de apoio para sobrevivência alastraram à classe média/alta, atingindo até quem antes apoiava a instituição com doações.
O número médio de atendimentos para apoio social de emergência passou de 100 mil para cerca de 120 mil. E a covid-19 provocou uma nova vaga de solicitações de mais perto de 20 mil pessoas. Com os efeitos da guerra na Ucrânia, este cenário tende a agravar-se.
Em contrapartida, há sinais positivos: emergiram novos apoios, de empresas e da camada mais jovem, que até à crise pandémica permaneciam arredados da instituição.
Este foi o balanço feito ao JN pela presidente da Cáritas Portuguesa, Rita Valadas, em vésperas do arranque, hoje, do peditório anual da instituição, que volta a realizar-se de forma presencial. Em 2020 não se realizou, no ano passado decorreu "online" e a partir deste domingo decorrerá em formato misto, na rua e na Internet em simultâneo. Neste momento, toda a ajuda é pouca, assinala a presidente da instituição.
"Tínhamos uma situação em Portugal que sabíamos que ia ser crítica, que tem a ver com o aumento do custo de vida que já estava previsto. Agora esta guerra torna a hipótese de o custo de vida aumentar de uma forma genérica, numa evidência que não sabemos até onde é que vai", declarou Rita Valadas, referindo que já se sente "o receio, as pessoas angustiadas com a situação que aí vem".
O passado recente contribui para o agravamento dessa angústia. "Além do apoio típico, que passou de 100 mil para 120 mil atendimentos, a Cáritas teve que criar um programa específico para as famílias que não estavam no seu radar e que eram famílias da classe média/alta, que dependiam de pequenos negócios, como restauração, cultura, cabeleireiros, e que tiveram de fechar a porta", descreveu a presidente da instituição, adiantando que o novo programa "Vamos inverter a curva da pobreza", criado para apoio à covid-19 e que ainda está ativo, beneficiou aqueles para quem, "até haver as almofadas criadas pelo Estado, não havia alternativas" e os "muitos deles que nem estiveram abrangidos" por esses apoios.
Travar a nova pobreza
"Desde abril de 2020 até agora, esse programa tem impacto sobretudo no pagamento de rendas, água, luz, e comunicações como a Internet, que passou a ser um bem de primeira necessidade, com as aulas das crianças", informou Rita Valadas, refutando a ideia de estar "a emergir uma nova pobreza".
"O nosso objetivo é apoiar estas pessoas para que elas não caiam nesse grupo e que consigam fazer a retoma da sua situação", disse, admitindo que "são pessoas em risco" e que chegaram "em número elevado". "Para se ter uma ideia, tivemos a recorrer aos nossos atendimentos pessoas que, durante algum tempo, foram nossas doadoras de bens e géneros", indicou.
A contrabalançar esta nova realidade, a ação da Cáritas em todo o país foi robustecida por novas contribuições. De empresas que viviam praticamente alheadas do trabalho desenvolvido pela instituição.
Mas também por uma adesão significativa de jovens à rede de voluntariado, que tradicionalmente era sustentada por gerações mais velhas. "Nasceram novos tipos de apoio, que sustentam a nossa atividade, durante a pandemia", referiu Rita Valadas.
SABER MAIS
Peditório
Depois de dois anos de pandemia, os voluntários da rede nacional Cáritas voltam a estar presentes nas ruas e grandes superfícies comerciais, de 13 a 20 de março, para promover o peditório nacional. A angariação decorre também através da Internet no site da instituição.
Semana da Cáritas
Com o lema "O amor que transforma", decorre a partir de hoje a Semana Nacional da Cáritas. O programa inclui, este domingo, um Concerto Solidário no Capitólio (Parque Mayer - Lisboa). A 17 de março, na Paróquia de S. Julião da Barra (Oeiras), será apresentado o relatório europeu "Mercados de Trabalho Inclusivos".