Pandemia da covid-19 obriga a dividir festejos por etapas, com prioridade aos mais próximos e aos idosos. Pais recriam tradição para compensar filhos pelas restrições.
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Em ano de pandemia, as famílias preparam vários natais, repartindo os festejos pelos mais próximos e por diferentes dias, com prioridade aos avós, especialmente atingidos pelo isolamento. Têm programadas quinzenas de quarentena voluntária para minimizar riscos e recriam tradições para os filhos não perderem a magia desta quadra.
Para as famílias numerosas, a criatividade é um imperativo numa altura em que todos procuram reinventar-se entre medidas de confinamento. Ana Valgode, advogada de 40 anos com três filhos e uma enteada, traçou com o marido o plano de festas. "Vamos estar com os nossos pais, os avós das crianças, em dias diferentes" para "não os misturar", explicou ao JN. A exceção é o irmão que vem de Inglaterra e fará "o isolamento necessário".
Fazer árvore com bisavó
Ana Valgode e o marido, que têm estado em teletrabalho, vivem no concelho dos familiares mais diretos, em Gaia. Neste fim de semana prolongado, decidiram visitar a bisavó das crianças durante a manhã para "fazer a árvore de Natal", mas "de máscara". Ana Valgode disse, ainda ao JN, que, com as idas das filhas para a escola, tudo era "uma incógnita". Mas, na semana de férias, procurará que "fiquem resguardadas" em casa.
Com um bebé de quase sete meses, uma filha mais velha de onze anos, outra filha e uma enteada com oito anos, procura que "não deixem de sentir o Natal" e "manter as tradições ainda mais acesas". Fizeram uma sessão fotográfica com camisolas natalícias, escreveram as cartas a pedir os presentes, estão a ensaiar um teatro de Natal e andam a distribuir bolachas de manteiga aos vizinhos em pequenos sacos que ficaram de quarentena. Não faltam os chocolates do calendário do advento e retomaram os jogos de tabuleiro.
Isolamento e testes
Por sua vez, Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, sublinhou que têm "consciência de que não pode ser um Natal igual aos outros". Terá de ser "mais espaçado no tempo, com vários natais e garantindo que os mais velhos não estão sozinhos".
Será assim "um Natal em várias fases", incluindo, mediante a evolução da pandemia, festejos mais tardios ou no exterior. O recurso às novas tecnologias é sempre uma alternativa.
Pelo contrário, "não será um Natal de famílias alargadas com tios e primos". Contou que "as famílias ponderam várias possibilidades, como fazer uma quarentena voluntária e serem testadas para garantir que podem estar com os idosos".
De sua parte, vai passar o Natal, pelo menos, com três dos seus cinco filhos.