Em média, até janeiro, foram vendidos 390 testes por mês, número baixou na pandemia. Procura surpreende a DGS.
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Desde final de setembro de 2019, quando passou a ser possível comprar um teste ao VIH na farmácia e fazê-lo em casa, já se venderam 2389 autotestes em Portugal. Os números, que sofreram uma quebra nos meses de confinamento, continuam a surpreender a Direção-Geral da Saúde (DGS), que considera natural que a pandemia tenha feito cair as vendas.
Por mês, e até janeiro deste ano, vendeu-se uma média de 390 autotestes ao VIH nas farmácias. "Estou surpreendida com a adesão. Admitia que havia necessidade desta resposta, mas não estava à espera que fosse tão expressivo", confessa Isabel Aldir, Diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida da DGS, que acredita que o facto de quase 400 pessoas por mês comprarem o teste mostra que "apesar de todas as outras respostas que existem, onde a pessoa também se pode testar com todo o anonimato, há quem prefira fazê-lo em casa".
O número de vendas do teste de autodiagnóstico começou a cair em fevereiro e desceu para os 191 em abril, segundo dados da Associação Nacional de Farmácias (ANF). Isabel Aldir justifica-o com o confinamento.
"É natural que as pessoas, estando confinadas, se desloquem menos às farmácias e que isto não estivesse nas prioridades". Ainda assim, a queda apanhou de surpresa a presidente da Associação Abraço, Cristina Sousa, que aponta que "a maior parte dos centros de rastreio estavam praticamente parados". "Os pedidos que recebemos por telefone para fazer rastreios mantiveram-se idênticos e achava que as pessoas iam recorrer mais às farmácias".
uma resposta necessária
Para Cristina Sousa, "os números são muito positivos, tendo em conta o preço" (o teste custa, em média, 24,50 euros). "Acredito que esta procura é por pessoas informadas e com poder económico, que não se querem dirigir a outros locais para não se exporem. Só demonstra que vem dar resposta a uma determinada população".
É em Lisboa e no Porto, segundo Isabel Aldir, que mais se compram autotestes. "Nas regiões do interior as vendas são menos expressivas. Não quer dizer que não se teste aí, mas nas grandes cidades há um maior número de pessoas e talvez mais informação e maior sensação de anonimato".
Até agora, a DGS não tem indicação de resultados reativos. Nesses casos, deve ligar-se à Linha SNS 24. "Não temos conhecimento de pedidos de referenciação pela linha. Mas isso não significa que não haja. A pessoa pode ter ido diretamente ao hospital ou a uma organização", diz Aldir, que acredita que a procura por tratamento médico não está em risco. "Uma pessoa que se predispõe a comprar e fazer o autoteste é, à partida, alguém que vai querer receber cuidados de saúde".
Portugal já atingiu as metas 90-90-90 no controlo da infeção VIH, ou seja, tem 90% dos portadores diagnosticados, 90% em tratamento e 90% com o vírus suprimido. A meta definida pela ONU para 2030 são os 95-95-95. "Estamos nos 90, mas os dados são dinâmicos e o investimento tem que se manter. Os autotestes serão uma grande ajuda. O foco é que as pessoas se testem e temos que ter todas as alternativas disponíveis", conclui Aldir.