Comercializadas em média 430 embalagens por dia no ano passado. Confinamento forçado na pandemia é uma das razões.
Corpo do artigo
No ano passado, as farmácias e parafarmácias venderam uma média diária de 430 embalagens de pílulas do dia seguinte. No total foram comercializadas cerca de 157 mil caixas do contracetivo de emergência, menos 15 400 do que no total do ano anterior, num valor superior a 2,5 milhões de euros, revelam os dados cedidos ao JN pela consultora IQVIA Portugal.
O confinamento, que diminuiu as relações sexuais inesperadas, uma melhor informação, e a disponibilização gratuita de métodos contracetivos pelo Serviço Nacional de Saúde são razões que podem ajudar a explicar esta diminuição, segundo os especialistas ouvidos pelo JN.
Paula Pinto, psicóloga da Associação para o Planeamento da Família (APF), revela que a maioria das mulheres que abordam a instituição sobre o tema procuram informação sobre se "é necessário recorrer ou não" à pílula do dia seguinte e "qual o procedimento".
237, 2 mil euros de perda na receita das farmácias e parafarmácias em relação a 2019, ano em que registaram 2,8 milhões de euros com a venda da pílula do dia seguinte. No ano passado foram 2,5 milhões.
Em muitas das situações, prossegue, "a mulher já está a fazer um método". O esquecimento da toma da pílula contracetiva ou o uso incorreto do preservativo são as causas mais relatadas.
"Aí, o trabalho de aconselhamento é sempre no sentido de esclarecer os procedimentos para uma toma correta e consistente do método que se utiliza", sublinha, acrescentando ser importante que as mulheres tenham informação sobre os métodos existentes que se adequam mais "ao seu estilo de vida e às suas características individuais", porque "ainda há muita adesão à pílula contracetiva face aos outros métodos".
Esquecimento constante
"Se uma mulher toma a pílula, e diz que está sempre a esquecer-se, é importante esclarecer que numa consulta de planeamento familiar ela tem a possibilidade de avaliar outros métodos que se calhar a protegem melhor", diz.
Duarte Vilar, investigador em temas de educação sexual e saúde reprodutiva, aponta duas hipóteses para justificar esta quebra. "O confinamento dificultou a vida sexual dos mais jovens, mas não dos adultos, que vivem um com o outro", explica.
Em 2020, tinham sido vendidas 172 400 embalagens e em 2018 foram 165 700. A maioria são compradas nas farmácias: no ano passado venderam-se ali 146,4 mil unidades. Nas parafarmácias foram compradas 10,6 mil.
Por outro lado, frisa, "nos últimos anos a venda da pílula do dia seguinte tem vindo regularmente a baixar", o que no seu entender é reflexo de que quando uma pessoa faz contraceção de emergência "é porque teve uma relação de risco" e, ao passarem por esta situação, "têm tendência depois a prevenir novos riscos".
De acordo com Vera Silva, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), a contraceção de emergência é disponibilizada de forma gratuita nos centros de saúde e unidades de saúde familiar e nas consultas hospitalares de ginecologia/obstetrícia. Também aqui a experiência mostra que o recurso à pílula do dia seguinte se deve, maioritariamente, à falha no método contracetivo usado. "Não creio que [o recurso à contraceção de emergência] seja uma coisa rotineira. É um uso residual, mais pontual", garante. "Portugal tem investido imenso na saúde da mulher e na educação sexual dos mais jovens", considera. O preço desta pílula varia em média entre 15 e 25 euros.
Acesso às vezes difícil
São casos pontuais, mas Paula Pinto alerta para alguma dificuldade no acesso à compra da pílula do dia seguinte. Ou porque as farmácias não a têm em stock ou porque ainda há algum preconceito por parte dos profissionais das farmácias que tecem juízos de valor.
Dois tipos
Estão disponíveis no mercado dois tipos de contracetivos de emergência. Um, com ulipristal como princípio ativo, é vendido exclusivamente nas farmácias. O outro, com levonorgestrel, é vendido em farmácias e parafarmácias. Nenhum precisa de receita médica.
Gratuitos
Nas consultas de planeamento familiar dos Cuidados de Saúde Primários é possível aceder de forma gratuita a vários métodos contracetivos. Desde a distribuição da pílula à aplicação de métodos mais duradouros como o implante hormonal cutâneo ou o sistema intrauterino (sem hormonas) ou o dispositivo intrauterino (com hormonas). Nestas situações são os médicos que colocam.