Feridos assistidos pelo INEM em acidentes de bicicletas e trotinetas mais do que triplicaram
No ano passado, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) registou 3230 ocorrências devido a sinistros que envolveram bicicletas e trotinetas. É um aumento de 278% face aos números de 2019 (854 sinistros). O interesse por seguros que protegem quem se desloca em veículos de mobilidade suave está a crescer.
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O maior uso de bicicletas e trotinetas nas cidades, a falta de reconversão da infraestrutura rodoviária para novas formas de deslocação e o excesso de velocidade dos condutores de carros são algumas das razões apontadas por especialistas em segurança rodoviária e por representantes das associações de defesa da mobilidade ativa para o aumento da sinistralidade naqueles dois veículos. Ao mesmo tempo, cresce o interesse por seguros específicos. Em 2024, o INEM contabilizou 3230 ocorrências relacionadas com os modos de mobilidade suave, tendo alguns dos acidentes motivado o transporte dos feridos para o hospital. A maioria das vítimas está em idade ativa e desloca-se em áreas urbanas.
Vera Diogo, presidente da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi), afirma que "havendo mais utilizadores de bicicletas e de trotinetas, é provável aumentarem as ocorrências". No entanto, a representante faz notar que todo "o desenho urbano está feito para veículos motorizados" e não estão reunidas as "condições de segurança para utentes vulneráveis", sejam eles ciclistas ou peões. Em 2019, o INEM acorreu a 854 acidentes em que bicicletas e trotinetas estavam envolvidas. Três anos depois, a mesma tipologia de sinistralidade rodoviária subiu 278% nas ocorrências registadas pelo instituto.
Circular na estrada, independentemente do veículo que se conduz, nunca é um ato isolado. Os últimos dados da PSP sobre a sinistralidade na mobilidade suave, isto é, com trotinetas e bicicletas, mostram que a maioria dos acidentes (73%) ocorre devido a colisões. Os especialistas acreditam que os sinistros são provocados, geralmente, por embates com automóveis. Os carros estão envolvidos em cerca de 70% dos acidentes em Portugal, segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.
Bruxelas pede melhores infraestruturas
Apesar da maior utilização de viaturas mais sustentáveis, para a carteira e o planeta, Mário Meireles, presidente da associação Braga Ciclável, destaca que as "pessoas não se sentem seguras" e, por isso, optam por contratualizar um seguro ou usar capacete. Para o doutorado em mobilidade e urbanismo, há um "longo caminho de reconversão da infraestrutura rodoviária" em Portugal. Também Alain Areal, presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, entende que a "promoção do uso de veículos de modo suave" não tem sido acompanhada por medidas para mitigar os acidentes nestes veículos.
Em abril do ano passado, a Comissão Europeia adotou uma declaração para a prática de bicicleta na União Europeia. O executivo de Ursula von der Leyen alertou para a necessidade de "mais e melhores infraestruturas" para ciclistas, nomeadamente a separação de ciclovias do trânsito motorizado, uma rede coerente de ciclovias que permita a ligação entre áreas urbanas e rurais e mais locais de estacionamento seguros.
Há hoje mais seguradoras a oferecer produtos específicos para quem circula de bicicleta e trotineta. "Temos assistido a uma procura mensal constante de seguros para bicicletas e trotinetas, o que se traduz num crescimento anual muito significativo das apólices em vigor, cerca de 30% nos últimos 12 meses", disse fonte oficial da Generali Tranquilidade. Segundo a empresa, a procura é sobretudo de jovens adultos, residentes em centros urbanos, como Lisboa e Porto, e que procuram uma "mobilidade eficiente, económica e sustentável para o dia a dia". O preço do seguro pode começar nos 27 euros anuais e ir até aos 62 euros.
Diferentes níveis de proteção
Quanto à proteção, há diferentes níveis de cobertura dos seguros para os meios de mobilidade suave, desde a responsabilidade civil (danos causados a terceiros) até à cobertura de danos próprios e assistência médica. No caso da Fidelidade, fonte da seguradora explica que não "é possível disponibilizar dados que tenham em conta apenas" a sinistralidade que envolve bicicletas e trotinetas, porque têm "uma oferta integrada e que cobre todos os modos de deslocação", o "AP1 Mobility".
O Automóvel Club de Portugal (ACP) aponta que os "seguros especificamente para bicicletas são residuais". Fonte do clube detalha que "a maioria das apólices automóvel, com a cobertura de responsabilidade civil de 50 mil euros, inclui a extensão para condução de velocípedes". O presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa afirma que a proteção específica para bicicletas e trotinetas "não tem expressão" em Portugal, mas admite que haja utilizadores "mais sensibilizados" para o tema e que prefiram precaver-se na estrada.
Feridos são menores ou estão em idade ativa
A maioria dos feridos de sinistros envolvendo trotinetas e bicicletas são menores de idade ou estão em idade ativa. No caso dos acidentes com trotinetas, em 2024, houve 390 feridos com idades entre os 20 e os 29 anos, 301 tinha entre 30 e 39 anos e 281 pessoas entre 10 e os 19 anos. Já nos acidentes com bicicletas, a distribuição etária é mais variada: 331 feridos tinham entre 10 e 19 anos, 271 entre 50 e 59 anos e 260 entre os 40 e os 49 anos.
A Unidade Local de Saúde (ULS) São José, em Lisboa, contabilizou 1038 episódios de urgências relacionados com meios de mobilidade suave: 572 foram em bicicletas e 349 em trotinetas. "Do total, 282 foram acidentes envolvendo menores de 18 anos e 756 dizem respeito a adultos", disse fonte da unidade de saúde. Já a ULS Santa Maria, também na capital, não distingue "bicicletas de trotinetas" no seu sistema de registo. Nas duas categorias de veículos, no ano passado, realizou 139 atendimentos nas urgências devido a sinistros rodoviários.
30 km/h
Já em 2021, o Parlamento Europeu propôs um limite de velocidade de 30 km/h em zonas residenciais e com muitos ciclistas na União Europeia. Algumas cidades europeias, como Paris (França), Bruxelas (Bélgica) ou Madrid (Espanha) já adotaram esta medida.
Obrigações
O uso de capacete é obrigatório para quem circula de trotineta em vários países da União Europeia, nomeadamente em Itália, França e Suécia. Em Espanha, a decisão cabe a cada autarquia. A obrigação é imposta consoante a idade do utilizador - se é ou não menor de idade - e as áreas em que conduz (zonas urbanas ou rurais).