Numa loja do Porto especializada na venda de artigos de gás, foi preciso pôr avô, filhos e netos ao balcão para conseguir atender os clientes que nesta segunda-feira não paravam de chegar. Queriam comprar fogões e candeeiros para enfrentar o apagão energético.
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Ao final da tarde desta terça-feira, a afluência de clientes à JC Idealgás, especializada na venda de gás e equipamentos a gás a retalhistas, era ainda invulgar, e Lígia Campos encolhe os ombros: “Quem não conseguiu comprar ontem, está a comprar hoje”. Na segunda-feira, e depois de espalhado o rumor de que o apagão ibérico se prolongaria por três dias, aviaram-se num ápice fogareiros de cartucho, fogões, candeeiros e botijas de gás como se fossem artigos em extinção, e a família Campos, que mobilizou 12 membros, até à terceira geração, para atender ao balcão, não teve mãos a medir.
Lígia continua incrédula: “Foi o caos; nunca tivemos nada assim. As pessoas queriam tudo, e o carregamento de gás que tinha para uma semana esgotou em 30 minutos”. Na rua, os clientes impacientavam-se. “Era uma fila compacta por aí fora, até à Rua Nove de Abril”, na zona do Carvalhido, recorda o fundador da empresa, José Campos, enquanto a filha conta que “foi o pânico total, com pessoas a bater nos vidros das montras”.
De cinco pessoas por dia para cinco por minuto
“Temos cinco pessoas por dia e, de repente, apareciam cinco por minuto”, compara a comerciante, contando que foi necessário “fechar a loja durante meia hora, para almoçar, e dar aos clientes que estavam na fila “um post-it com a vez de chegada”, para conter alguma confusão que se foi gerando.
“As pessoas começaram a ficar desesperadas, e havia gente a levar por atacado, para cinco casas”, relata Lígia, enquanto o irmão, David, observa que “as pessoas entraram em parafuso”. “Ontem, ia tudo o que fosse relacionado com gás”, diz José Campos, contando que teve de ir à fábrica e armazém “buscar mais stock” de artigos. “Nunca imaginei que houvesse uma corrida a este nível. Por aqui, quase já não tínhamos mais nada para vender, e peguei no furgão e fui à Maia. Mas tive de sair pela outra porta, senão comiam-me vivo”, brinca o empresário, que contou também com a ajuda dos netos para fazer face à fila crescente de clientes.
Gustavo Campos, de 15 anos, que entrara na loja apenas “para ver se estava tudo bem”, acabou por ficar “a ajudar”, tentando serenar quem aguardava a vez de ser atendido. “Houve pessoas que estiveram horas à espera para comprar uma coisinha simples como esta”, espanta-se José Campos, a apontar para um fogareiro de cartucho, muito usado para campismo.