Troço da A28, entre Neiva e Darque, e concessão de Pinhal Interior (A13) com as maiores subidas no primeiro trimestre deste ano face a 2024.
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O fim do pagamento de portagens em sete ex-scut portuguesas, em vigor desde 1 de janeiro, fez disparar o volume de tráfego na maior parte dessas autoestradas e, consequentemente, aliviou as estradas nacionais. No primeiro trimestre do ano, 25 306 veículos por dia e em média percorreram as vias que deixaram de ser portajadas, em comparação com o período homólogo de 2024. Os números constam do Relatório de Tráfego da Rede Nacional de Autoestradas do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT). Os maiores aumentos registaram-se na A 13-1 e na A13 (Pinhal Interior) – com uma subida de 51% e de 49,44%, respetivamente –, assim como no troço entre Neiva e Darque (Viana do Castelo) da A28 – com mais 35,5% de tráfego.
No país todo, entre janeiro e março deste ano, circularam nas autoestradas em que as portagens foram abolidas uma média de 130 694 veículos por dia. Os números mostram, assim, que houve um aumento de 24% face ao ano passado. Em 2024, nas vias em causa, passava um total de 105 388 viaturas, diariamente. A4 (Transmontana e Túnel do Marão), A13 e A13-1 (Pinhal Interior), A22 (Algarve), A23 (Beira Interior), A24 (Interior Norte), A25 (Beiras Litoral e Alta) e A28 (só entre Esposende e Antas e entre Neiva e Darque) – foram essas as ex-scut onde a circulação voltou a ser gratuita, após uma proposta do PS viabilizada com os votos dos socialistas, do BE, PCP, Livre, PAN e Chega, com abstenção da IL e votos contra do PSD e do CDS/PP.
Em percentagem, segundo os dados do IMT, o aumento mais expressivo de tráfego nas ex-scut no primeiro trimestre de 2025, registou-se na A13-1, que liga Almalaguês (Coimbra) a Condeixa. No período homólogo, em 2024, passava ali uma média diária de 4420 carros. Este ano, o número subiu para 6820 – ou seja, mais 2400 viaturas. Também na A13, que vai de Marateca, no concelho de Palmela, até Coimbra, transitaram, em média, mais 2805 veículos por dia (uma subida de 5673 para 8478).
No caso da A28 – que é a ex-scut com maior volume de tráfego a nível nacional –, a isenção de portagens só abrangeu dois troços, apesar dos protestos populares e de políticos e figuras públicas da região. Entre Neiva e Darque, o aumento foi de mais 6096 carros por dia – o que dá um total de 23 253 veículos a circular ali, diariamente. Entre Esposende e as Antas, a subida fixou-se nos 20,8%. Ali, no primeiro trimestre, passaram 19 268 viaturas por dia – mais 3320 do que em 2024.
“Era um sufoco”
Um dos locais onde o aumento de tráfego nas autoestradas mais se notou fora das vias rápidas foi no Algarve. No primeiro trimestre, transitaram na A22 – Via do Infante, mais 4196 carros por dia do que no mesmo período do ano passado. Isso equivaleu a uma subida de 29,8% (dados que ainda não refletem a época alta de férias). Consequentemente, na EN 125, houve menos trânsito.
“Aliviou muito a EN 125, que era e continua a ser urbana, não obstante grande parte estar requalificada. Chegando o verão, era um sufoco circular ali”, recordou João Vasconcelos, porta-voz da Comissão de Utentes da Via do Infante. “Estou convicto de que este verão será muito melhor, sem as portagens. A A22 sempre foi um balão de oxigénio para as pessoas, para as empresas e famílias. É muito mais rápida”, adiantou o representante dos utentes.
Seguindo o ranking das ex-scut onde o tráfego mais cresceu, surge, também, a A23 – Beira Interior, que liga Torres Novas a Pinhel. Nos primeiros três meses do ano, passou ali uma média diária de 11 713 viaturas – mais 2147 do que em 2024, o que representa uma subida de 22,44%.
Na A25, a isenção só abrangeu a concessão Beiras Litoral e Alta, entre Albergaria-a-Velha e Vilar Formoso, ficando de fora três pórticos daquela autoestrada (ler texto ao lado). A subida de tráfego foi de 19,5%. Se, no primeiro trimestre de 2024, circulava lá uma média de 10 833 carros por dia, este ano o número subiu para 12 925. Já na A24 – Interior Norte, entre Faíl (Viseu) e a fronteira com Espanha, o aumento foi de 19% (mais 996 carros por dia).
Das sete ex-SCUT, onde se registou um menor aumento de tráfego foi na A4 – Transmontana (entre Parada de Cunhos, Vila Real, e Quintanilha, na fronteira) e na A4 – Túnel do Marão. No primeiro troço, só passou uma média de mais 432 carros por dia, equivalente a uma subida de 6%. No segundo, circularam mais 902 veículos por dia – ou seja, houve um aumento de 4,9%, comparativamente aos três primeiros meses do ano passado.
Promessa
À lupa
Perda anual
A abolição das portagens nas ex-SCUT resultará numa perda anual de 431,4 milhões de euros para a IP. A avaliação foi enviado em junho de 2024 à Assembleia da República quando os deputados debatiam a abolição das portagens.
Desequilíbrio
Em “situação de desequilíbrio na concessão” desde que começaram a ser aplicados os descontos para os utilizadores frequentes em julho de 2021, a empresa calcula que a maior perda de receita anual será nas concessões do Algarve (A22) e das Beiras Litoral e Alta (A25), correspondendo a 103,55 milhões e 98,29 milhões de euros respetivamente.
Saber mais
368,9 milhões de euros foi a receita obtida em 2024 com portagens, deduzida de custos de cobrança, tendo baixado face a 2023.
4,8 milhões de euros é a quebra contabilizada pela Infraestruturas de Portugal (IP) na receita de portagens, resultante da aplicação dos descontos na cobrança de taxas nas ex-scut.
4 milhões de euros é o valor das dívidas à IP em 2024 por parte dos utilizadores das autoestradas da empresa pública. “O peso das dívidas de portagem face ao saldo total de clientes foi de 14%”, explicou aquela empresa, no seu relatório anual de contas.
Descontos são culpados
Segundo o Relatório e Contas de 2024 da IP, “a redução no valor total das portagens está relacionada com a entrada em vigor do regime legal de redução das tarifas de portagens” em algumas ex-scut. Só em 2025 é que as taxas de portagens foram abolidas. Essa isenção total só entrou em vigor em janeiro deste ano.
Pressão pública
A IP refere, no mesmo documento, que “a pressão pública para eliminar portagens” é um dos desafios que a empresa pública enfrenta.
Mecanismos de compensação
Com a entrada em vigor da isenção de portagens, a IP crê que, de modo a não lesar os concessionários, “será equacionado um mecanismo suscetível de assegurar a compensação pela perda de receita”.