Analistas políticos consideram toada dos partidos com representação parlamentar abaixo do expectável.
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Sem polémicas de maior, com protagonistas apagados e escassez de mensagens fortes. Politólogos e especialistas ouvidos pelo JN foram claros ao avaliar o tom baixo da campanha eleitoral que hoje chega ao fim.
“Não houve nada de imprevisível. A AD tentou captar temas associados ao Chega, como a imigração e a insegurança, o PS puxou por clássicos como habitação e aúde”, elabora André Azevedo Alves, coordenador científico do Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.
“AD e PS protagonizaram campanhas cinzentas, com nada de extraordinário que seduzisse muitos para além do respetivo espaço natural”, assinala, por sua vez, Luís António Santos, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. “Luís Montenegro afastou a ideia negativa que o rodeava por ter provocado eleições devido a uma situação pessoal e impôs o discurso do ‘deixem-me trabalhar’”, explica.
Já para Teresa Ruel, professora auxiliar de Ciência Política na Universidade Lusófona, o período pré-eleitoral “foi igual a tantos outros”, sem rasgos específicos. “As questões de ética que levaram à queda do Governo não foram sequer colocadas à discussão”, aponta.
Nos restantes partidos com representação parlamentar, Luís António Santos destaca pela positiva a Iniciativa Liberal, “por se ter afirmado como força próxima da possibilidade de integrar o futuro Governo”. Em contrapartida, André Azevedo Alves viu problemas no Bloco de Esquerda: “Mariana Mortágua teve um desempenho desanimador, condicionada pelo voto útil pedido pelo PS e pelo crescimento do Livre”, sustenta. Teresa Ruela viu “propostas e programas não muito diferentes” dos das eleições de há um ano.
O intruso Gouveia e Melo
O único dado que escapou ao guião morno da campanha foi a confirmação na primeira pessoa, anteontem, da candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República. “Tentou reforçar o seu distanciamento em relação aos partidos. Foi normal que nenhum quisesse puxar o tema para o centro do debate”, diz André Azevedo Alves.
Já para Luís António Santos, o almirante “introduziu ruído e criou um momento deselegante” a dias das legislativas. “Quis sinalizar que é um sinal de estabilidade num momento político instável”, considera.