Maior concentração é no Grande Porto. Nas cidades da costa, há 1200 a 1700 casais. Autarquias tentam controlar aves e minimizar danos.
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As gaivotas espalharam-se pela costa litoral de Portugal continental, concentrando-se sobretudo nas zonas urbanas do Grande Porto, revela um trabalho da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Nas cidades, onde encontram alimento, as autarquias registam problemas que vão desde danos em edifícios a ameaças à integridade das pessoas.
A contagem das gaivotas-de-patas-amarelas, realizada nos últimos meses por voluntários que registaram aves e ninhos nas cidades, permitiu estimar a existência de "1200 a 1700 casais em ambiente urbano, na costa litoral desde Faro a Caminha", adiantou Nuno Oliveira, técnico de conservação marinha que coordenou a iniciativa na SPEA.
Calcula-se que "entre 600 e 800" desses casais estejam "no distrito do Porto, com maior foco no Porto e Vila Nova de Gaia", acrescenta. Segue-se a região de Lisboa - com cerca de 230 casais, concentrados sobretudo nas zonas urbanas de Lisboa, Cascais e Sintra - e Peniche.
No último censo para esta espécie, realizado em 2002, a "distribuição era completamente diferente", diz Nuno Oliveira. O limite norte da distribuição e nidificação era em Peniche e concentravam-se em zonas naturais, não havendo "grandes registos da espécie nidificar em meio urbano".
Para este aumento, adianta o técnico, terá contribuído a facilidade de encontrarem alimentos nas cidades, nomeadamente "desperdícios das pescas nos portos e embarcações, aterros e resíduos urbanos".
Os dados irão contribuir para o censo nacional da gaivota-de-patas-amarelas, que inclui também as zonas naturais, num trabalho conduzido pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). A SPEA espera que as informações ajudem a planear ações de controlo.
Sujidade e insegurança
Há registo de problemas de norte a sul. No Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, a solução natural veio também por ar, com a águia Belém [ler reportagem ao lado]. No Norte, na Área Metropolitana do Porto, decorre um trabalho de monitorização e estão a ser testadas medidas de exclusão e controlo de nidificação que abrangem os municípios de Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Vila Nova de Gaia.
Entretanto, o Porto tem procurado controlar a "disponibilidade de alimento oferecido, direta ou indiretamente, pela população". Em situações pontuais, nas quais esteja em causa a segurança de pessoas e bens e a saúde pública, a Câmara "poderá atuar com equipa especializada" para retirar "ninhos situados em locais problemáticos".
A Maia diz que tem recebido queixas relacionadas com "sujidade e incómodo por ruído". E Gaia refere que o "descontrolo" tem provocado danos patrimoniais, limitando o uso de zonas de lazer "devido à agressividade na obtenção de alimento". E acrescenta que "a elevada concentração de gaivotas nos aterros sanitários perturba as atividades".
Vila do Conde admite que a dimensão da população está a assumir "contornos preocupantes", com riscos até para a segurança", que vão desde colisões com aeronaves a transmissão de agentes patogénicos ao homem e animais domésticos.
É um "problema de difícil resolução, muito devido às leis de proteção de espécies e à disponibilidade de alimento", refere Matosinhos.