Galamba saúda inquérito e diz que ex-adjunto ia ao ministério "a horas impróprias"
O ministro das Infraestruturas lançou, quinta-feira, novas suspeitas sobre o ex-adjunto, alegando que este ia ao ministério a "horas impróprias" para copiar documentos e dizendo não perceber por que motivo Frederico Pinheiro queria "desesperadamente" levar o computador.
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Na comissão parlamentar de inquérito (CPI) da TAP, João Galamba saudou a investigação do Ministério Público e mostrou-se disponível para que as autoridades examinem o seu telemóvel. Contudo, garantiu que não encontrarão qualquer mensagem de Frederico Pinheiro a dar conta da existência de notas da reunião entre a ex-CEO da TAP e o PS.
Galamba acusou Pinheiro de lhe ter feito "ameaças físicas violentas" durante a chamada telefónica em que o ministro o exonerou. Também negou "categoricamente" ter ameaçado o ex-adjunto com "dois socos", contrariando o que este garantira na véspera. Disse ainda que "adorava" que a conversa em causa fosse pública, assegurando que esteve sempre calmo apesar de se considerar uma "pessoa colérica".
Adotando uma atitude serena, Galamba revelou ter ligado ao ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, na noite de 26 de abril, após o alegado roubo do computador. Questionado sobre o motivo pelo qual não relatou esse facto quando, três dias mais tarde, deu uma conferência de imprensa, disse que tal ocorreu "no calor do momento" e que, quando assim é, podem surgir "erros", já que "nem tudo é perfeito". Mas garantiu: "Não menti ao país".
Ligou a dois ministros
Carneiro foi "o primeiro" a quem Galamba telefonou, por ser quem tutela a PSP. Seguiu-se uma chamada para a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, para acionar a PJ. O ministro das Infraestruturas referiu não se recordar se falou do SIS e do SIRP durante essa chamada, mas reafirmou que foi o gabinete do primeiro-ministro que recomendou que informassem as secretas.
Ao longo de mais de sete horas e meia, o titular da pasta das Infraestruturas foi lembrando, por várias vezes, que tem "muitas testemunhas" que confirmam a sua versão dos factos. Pinheiro, pelo contrário, não tem "uma única", disse.
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Galamba procurou colocar em causa a conduta de Frederico Pinheiro, insistindo que o exonerou por "comportamentos incompatíveis" com a função. Enumerou várias falhas, como desobediências a "instruções da chefe de gabinete", mentiras e omissões ou o facto de, alegadamente, ignorar telefonemas. Acrescentou que Pinheiro se deslocava "a horas impróprias" ao ministério para fazer "cópias, muitas, não se sabe bem para quê", mas não explicou como manteve a confiança para lhe entregar o dossiê da TAP.
Lançou novas suspeitas
Questionado sobre a razão pela qual os membros do seu gabinete quiseram impedir o ex-adjunto de levar o computador - este disse ter ficado "sequestrado" -, Galamba lançou suspeitas sobre a decisão "bizarra e incompreensível" de Pinheiro ter ido "desesperadamente" ao ministério buscar o equipamento. Sugeriu que não o terá feito por razões "pessoais"- já que os seus pertences lhe seriam entregues - e sim "por outra coisa". "O que raio terá aquele computador para que alguém esteja disposto a fazer o que fez?".
Sobre a reunião de 16 de janeiro, em que se encontrou com Christine Ourmières-Widener, Galamba negou ter pedido que fosse à reunião do dia seguinte, com deputados do PS. "Eu disse só: se quiser ir pode ir", relatou, garantindo que a ex-CEO da TAP estava muito "ansiosa". Embora tenha afirmado ter sido ele quem, pela primeira vez, falou da reunião de dia 16, a verdade é que foi Pinheiro quem, a 28 de abril, revelou a existência desse encontro.
A CPI aprovou, com a abstenção de PS e PCP, o pedido do Chega para que as imagens do sistema de videovigilância do ministério sejam enviadas. O PSD quis saber se Galamba está confortável com o processo de despedimento da ex-CEO da TAP, o ministro garantiu que sim.
Ministério Público confirma investigação
O Ministério Público (MP) confirmou ontem que está a investigar "os factos ocorridos no ministério das Infraestruturas e aqueles que com os mesmos se encontrem relacionados". O inquérito é dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa "e encontra-se em segredo de justiça", revelou à Lusa a Procuradoria-Geral da República.
Esta quinta-feira, em comunicado, o Sistema de Informações da República (SIRP) desmentiu "categoricamente" que o SIS "tenha proferido ameaças ou coagido o dr. Frederico Pinheiro, no âmbito dos contactos com este". Na quarta-feira, o ex-adjunto de Galamba disse ter sofrido "ameaças" do SIS.