Acordos de cooperação têm impacto ao nível cultural, empresarial e turístico e estão na base de diversas ações solidárias, sobretudo em países em desenvolvimento. Captação de mão-de-obra estrangeira é vista como outra vantagem destas alianças internacionais.
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Em 2017, Arnaldo Ribeiro, coordenador do Gabinete de Relações Internacionais da Câmara de Viana do Castelo, recebia um grupo de alunos franceses, em iminente situação de abandono escolar. A visita foi pedida por professores de uma escola de Pessac, com quem o Município tem um acordo de geminação, e pretendia "mudar as mentalidades" dos jovens.
A experiência haveria de ficar na memória de todos, já que nenhum dos estudantes deixou a aprendizagem até completar o 12.º ano. Arnaldo Ribeiro diz que ter "cidades irmãs" é uma troca de conhecimento que tem, também, impacto ao nível cultural, empresarial, turístico e das missões humanitárias. Há quem acrescente que são uma boa estratégia para seduzir trabalhadores.
Mão de obra e trocas culturais
Foi a pensar na captação de mão-de-obra que Delfim Filho, administrador de um dos principais hotéis de Braga, mediou, recentemente, um acordo de geminação com Niterói, no Brasil, onde nasceu. "São duas cidades fortes e em crescimento, há muitas parecenças", refere o gestor, para logo justificar o interesse da parceria. "Braga precisa de pessoas para trabalhar e investir em imobiliário", diz, acrescentando que, apesar da grande concentração de brasileiros na cidade, "não há gente para trabalhar na hotelaria".
Miguel Bandeira, ex-vereador do Município de Braga, que esteve envolvido na geminação da cidade com a brasileira Manaus, reforça que foram igualmente "os empresários" os principais responsáveis "pela proximidade" dos dois territórios. No Rio de Janeiro, a Casa do Minho é um exemplo das boas relações entre as duas comunidades "irmãs". "As geminações têm uma grande expressão nas trocas culturais", defende o também investigador de Geografia da Universidade do Minho, lembrando que, ainda em setembro, recebeu delegações de estudantes franceses de arquitetura de uma universidade de Clermont-Ferrand, "que quiseram estudar Braga".
Em Viana do Castelo, Arnaldo Ribeiro testemunha uma experiência idêntica com jovens. "Organizámos estágios de fim de curso na área de arquitetura e construção civil em empresas locais, através de um programa Erasmus. Foi muito bom, porque os participantes verificaram que estamos muito evoluídos em termos tecnológicos", conta o gestor das relações entre as 17 cidades geminadas com o município minhoto.
Captação de investimento
Para a Autarquia de Coimbra, uma das cidades portuguesas com mais "irmãs gémeas" - 22 ao todo - , os acordos de geminação são "extremamente importantes para a afirmação da marca Coimbra ao nível europeu e internacional".
"As singularidades e mais-valias são maximizadas através destes acordos e parcerias", refere o presidente, José Manuel Silva, apontando, por exemplo, os esforços de Esch-sur-Alzette (Luxemburgo) e de São Paulo (Brasil) na promoção da candidatura a Capital Europeia da Cultura em 2027.
No Porto, o presidente Rui Moreira estreitou relações com a maior cidade chinesa, Xangai, em 2019, com um "memorando de entendimento" virado para "o intercâmbio cultural e turístico". No mesmo ano, estava a receber uma comitiva de Shenzhen, também na China, para "captar investimento", nas áreas das tecnologias e transportes.
São os processos de geminação que estão na base das ações solidárias, da entreajuda
Mas, entre todas as vantagens que apontam às geminações, os municípios destacam o espírito de voluntariado e as missões humanitárias. Em Viana do Castelo, Arnaldo Ribeiro lembra a ajuda que a Autarquia deu no desenvolvimento da cidade de Cacheu, na Guiné-Bissau, com novas escolas e uma maternidade. No Porto, a Câmara recorda o apoio de 100 mil euros para reconstruir um hospital na Beira, em Moçambique, aquando da catástrofe das cheias, há três anos.
"São os processos de geminação que estão na base das ações solidárias, da entreajuda. Em relação à Ucrânia, vê-se na comunidade bracarense uma mobilização que, provavelmente, não é tão viva noutros sítios onde não há processos de integração", elucida Miguel Bandeira.
Em alguns casos, as relações com as cidades irmãs ficam mesmo eternizadas no espaço público ou incentivam ao associativismo. Cascais inaugurou, em 2012, o passeio das geminações, na Parede. O Palácio de Cristal, no Porto, conta com "o jardim das cidades geminadas", desde 2009. Na Póvoa de Varzim, foi criada a Associação de Amizade Póvoa de Varzim/Cidades Geminadas, que tem como um dos pontos altos da programação anual a Praça dos Pintores, um encontro internacional de jovens de Montgeron (França), Eschborn (Alemanha) e Zabbar (Malta).