Num ano, o Centro Hospitalar e Universitário de S. João (CHUSJ) duplicou as cirurgias de obesidade e quadruplicou as primeiras consultas. Deixou de haver doentes com esperas superiores a um ano para cirurgia de obesidade e acabaram as transferências para outros hospitais por falta de resposta atempada.
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O segredo do sucesso chama-se Centro de Responsabilidade Integrada (CRI), um novo modelo de gestão, em que os profissionais contratualizam objetivos com a administração do hospital e recebem incentivos pelo desempenho. O Governo reservou para este ano cem milhões de euros para distribuir em incentivos através destes CRI. O modelo, replicado das USF B, será a "vitamina" que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) precisa.
Resposta a 50 mil doentes
O ex-ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, impulsionador destes centros, acredita que com "mais dez a 15 CRI no país se resolve o problema dos 50 a 60 mil doentes que esperam mais do que o recomendado para uma cirurgia". Na apresentação dos resultados do CRI de Obesidade do S. João, Adalberto Campos Fernandes frisou os resultados "esmagadores", aconselhando outros hospitais "a seguir o exemplo" e a criarem centros semelhantes nesta e noutras áreas. Quando deixou a pasta, em outubro de 2018, havia quase 80 candidaturas, mas a remodelação da equipa ministerial abrandou os processos.
O CRI de Obesidade do CHUSJ nasceu em janeiro de 2019 e foi um dos primeiros do país, mas o modelo está a ser replicado. "Há, neste momento, 20 a 25 CRI em funcionamento ou que vão começar em breve", afirmou Ricardo Mestre, vogal da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), no Porto.
Os novos CRI centram-se em áreas cirúrgicas diversas, em que a espera é tradicionalmente crítica, como a Oftalmologia, a Ortopedia, a Urologia, além da Obesidade. O modelo está a avançar também em áreas como a Pneumologia, Gastrenterologia, Medicina Interna, bem como na Imagiologia, Medicina Nuclear, Reabilitação e nos Serviços de Urgência e Hospitalização Domiciliária. No CHUSJ, por exemplo, o próximo CRI a avançar é na unidade de diálise que vai nascer em Valongo, avançou o presidente Fernando Araújo.
Motivação das equipas
Não vamos ter dois iguais no país", disse Ricardo Mestre, mas o propósito será sempre o mesmo: aumentar a produção, com melhor gestão dos recursos, para dar mais resposta ao doente.
Foi o que aconteceu no S. João. "Melhorámos a gestão, o acesso e os tempos de resposta", resumiu John Preto, diretor do CRI de Obesidade. Os resultados "falam por si", salientou Fernando Araújo, mas importa também a motivação da equipa. No próximo mês, os resultados terão impacto no bolso de cada um. Há 222 mil euros de incentivos para distribuir por médicos, enfermeiros, técnicos e assistentes daquele centro.
Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, acredita que os CRI são um instrumento chave para reter os melhores profissionais no SNS.
Outros dados
222 mil euros de incentivos vão ser distribuídos, no mês de março, pelos 41 profissionais de saúde do CRI de Obesidade do S. João, pelo desempenho em 2019.
100 milhões de euros é a verba alocada para o pagamento de prémios de desempenho nos hospitais, em 2020, para aumentar a produção.
Mais 307 cirurgias
Com o CRI de Obesidade, o S. João passou de 273 cirurgias de obesidade em 2018 para 580 em 2019. Os tempos de espera baixaram de 238 para 134 dias, a demora média de internamento diminuiu, libertando camas para outras áreas do hospital e a rentabilização do bloco operatório aumentou. No final, o custo com material de consumo clínico por doente baixou 2,1%.
Espera desce 279 dias
As primeiras consultas de obesidade aumentaram 298%, passando de 412 em 2018 para 1639 no ano passado. A mediana do tempo de espera desceu de 551 para 272 dias.
Espera longa a acabar
No final de 2019, 958 doentes esperavam por consulta de obesidade há mais de um ano (eram 2792 em 2018). O diretor do CRI do S. João crê que em abril estará resolvido.