O Centro Hospitalar do Baixo Vouga tem "ginásios" por todo o lado. Num corredor ou enfermaria há uma equipa que reabilita o corpo e o ânimo.
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Começam por rodar a cabeça, com cuidado para não forçar a cervical. Seguem-se exercícios de alongamento, equilíbrio, relaxamento, entre muitos outros. O "ginásio" é improvisado no corredor ou num outro espaço do serviço de medicina intensiva do hospital de Aveiro e os alunos desta aula são os médicos, enfermeiros, assistentes e administrativos que ali trabalham.
Não dura mais de 10 minutos mas os doentes continuam a ser a prioridade e não ficam desamparados. "Os equipamentos têm alarmes e estamos a segundos dos doentes, não abandonamos a unidade em momento algum. A tranquilidade dos doentes também é resguardada", assegura Carlos Jorge Simões, o enfermeiro gestor daquele serviço.
"O objetivo é minimizar lesões nos profissionais e incentivar a mudança de estilos de vida", explica Lídia Oliveira, enfermeira gestora da Equipa de Reabilitação, responsável pelas aulas que atravessam os diversos serviços do hospital ao longo da semana. Os exercícios visam "atingir todos os grupos musculares" e têm em conta a importância da respiração, já que a oxigenação do sangue é importante para a "concentração e bem-estar", acrescenta a enfermeira Anabela Cardoso, especialista de reabilitação.
Espírito de equipa
Mesmo que alguém considere que não precisa, a nível físico, é importante que as pessoas convivam e se relacionem, "para que as coisas funcionem, porque trabalhamos em equipa", explicam.
O serviço de medicina intensiva foi pioneiro nestas aulas, que arrancaram em fevereiro no Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), num esforço para proporcionar aos profissionais de saúde benefícios físicos, mentais e sociais, que se refletem depois no cuidados aos doentes.
"Com estes exercícios sinto diferença em termos físicos e também anímicos, a equipa fica mais coesa. Este não é um serviço fácil, temos situações complicadas, com doentes críticos", diz a enfermeira Andreia Rodrigues, sublinhando que as sessões "são curtas e reajustadas conforme as necessidades do serviço". Nesta aula, por exemplo, não houve médicos porque estavam a passar o turno.
"É pouco, mas é bom", afiança Ana Paula Duarte, assistente administrativa de 59 anos, há 27 anos a trabalhar no hospital, que enaltece o momento de "convívio e interação" que acontece ali duas vezes por semana. "Começarmos a trabalhar com outro ânimo", reforça a assistente operacional Regina Gomes, 55 anos.
Outros benefícios em estudo
O projeto visa os cerca de 2000 trabalhadores dos três polos do Centro Hospitalar do Baixo Vouga, ou seja, não apenas em Aveiro, mas também em Estarreja e Águeda, onde se está a avançar nesta altura. A intenção é no futuro proporcionar um momento diário e abarcar todos os funcionários.
A iniciativa faz parte de um programa mais vasto, o "Conciliar+", que pretende ajudar os profissionais de saúde a conciliarem trabalho e vida pessoal. "Com a pressão da covid-19, apercebemo-nos que este projeto, que em maio vai ser certificado, era ainda mais necessário", explicou Margarida França, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga.
"Claro que um hospital trabalha 24 horas por dia, mas a nossa ideia é, dentro daquilo que são as nossas possibilidades, sermos mais flexíveis e procurarmos que eles [os profissionais] sintam que são queridos e fazem parte de uma grande família", acrescentou a administradora, adiantando que o CHBV está a estabelecer parcerias para que os funcionários usufruam de vantagens junto de diversas entidades, nomeadamente na área do desporto, seguros, farmácias e infantários.