Projeto de nove milhões vai experimentar novas formas de gerar, armazenar e distribuir energia no edifício no centro de Braga.
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O edifício Gnration, no centro de Braga, vai ser transformado num laboratório vivo, na sequência de um projeto que pretende testar diferentes tecnologias e baterias para responder a novas formas de gerar, armazenar e distribuir energia elétrica.
Liderado pelo grupo DST, o "Baterias 2030" conta com um financiamento de quase nove milhões de euros e começa a ser implementado no final do próximo ano, anunciou o responsável científico, Pedro Salomé, à margem de um encontro com conselheiros da Comissão Europeia que decorreu no Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL).
"Serão instaladas 15 tecnologias diferentes relacionadas com a energia e as baterias. Estamos a falar de fachadas fotovoltaicas de última geração, três ou quatro baterias diferentes que ainda não são comercializadas, diferentes tipos de hidrogénio, outro tipo de geração de eletricidade, plataformas inteligentes para carregar e descarregar baterias", exemplificou o investigador, sublinhando que o projeto conta com o envolvimento de 14 empresas e nove institutos de investigação, com o INL a assumir o papel de conselheiro científico.
Baterias nas casas
Pedro Salomé assumiu que o envolvimento em torno do "Baterias 2030" fez perceber que "há mais indústrias interessadas no tema", o que levou à criação de uma associação que vai trabalhar toda a cadeia de valor das baterias.
"Portuguese Battery Cluster" promete unir as empresas aos laboratórios científicos para trabalhar a área da metalurgia, a produção dos materiais e a sua utilização no mercado. "Hoje em dia já temos a bateria nos dispositivos eletrónicos, também já estão a aparecer nos carros, mas, daqui a cinco ou dez anos, é previsível que haja aumento exponencial do uso de baterias nas redes elétricas urbanas. Quase de certeza que todas as casas no futuro vão ter uma bateria", esclareceu o responsável, apontando esta tecnologia como uma das grandes apostas da União Europeia para atingir a neutralidade carbónica.
O primeiro-ministro, António Costa, que marcou presença no INL para discutir o tema, avisou que Portugal "tem de estar na linha da frente" nesta transição tecnológica. Além das reservas de lítio, o chefe do Governo defendeu que o país tem "o conhecimento" e até financiamento para assumir um lugar cimeiro.
"No nosso Plano de Recuperação e Resiliência reservamos mil milhões de euros para agendas mobilizadoras com potencial de crescer mais 12 mil milhões", contabilizou.
Preocupação
Compensações pela extração de lítio
"Não é aceitável que Boticas e Montalegre sejam só os territórios de onde são extraídos os recursos. Como qualquer outra das regiões e municípios onde os resíduos existem, têm de ser devidamente compensadas e remuneradas por essa riqueza que vai poder ser multiplicada com a aplicação do conhecimento que o sistema científico disponibiliza, com a valorização que a sua industrialização vai desenvolver", defendeu o primeiro-ministro, António Costa, durante o encontro no INL, dedicado à cadeia de valor das baterias sustentáveis.
O aviso serviu de resposta às preocupações de empresários, investigadores e do presidente da Comissão de Coordenação do Desenvolvimento Regional do Norte, António Cunha, que assumiu que a produção de baterias "afigura-se como estratégica para a região", mas tem de ser desenvolvida "com base numa relação de confiança com as populações" dos territórios onde o lítio será extraído.