Não quer ser visto como um D. Sebastião e diz que o seu regresso seria sinal de que não se aprendeu nada. Pede prioridade à terceira dose.
Corpo do artigo
O ex-coordenador do processo de vacinação contra a covid-19, Henrique Gouveia e Melo, considerou "uma ideia peregrina" pensar que se pode administrar a terceira dose da vacina da covid "como se fosse uma vacinação da gripe normal", mas afastou o seu regresso.
"No início, havia uma ideia peregrina do sistema de saúde que conseguíamos fazer esta vacinação como se fosse uma vacinação da gripe, normal. E essa ideia peregrina às vezes parece estar de volta em muitas das atitudes. Temos de aprender com as lições e quem não aprende depois sofre consequências", disse numa cerimónia em Coimbra.
"Temos de conseguir unir outra vez a Ordem dos Médicos e a dos Enfermeiros para resolver este problema da terceira dose e do que vier para a frente para nos livrarmos dos militares", defendeu, numa crítica à forma como a Direção-Geral da Saúde (DGS) decidiu associar a terceira dose da vacina covid à da gripe. Recorde-se que, esta semana, Graça Freitas reconheceu que acima dos 80 anos, a dose de reforço da covid estava "abaixo do desejado".
Embora se assuma sempre disponível para ajudar o país, o vice-almirante considera que o seu regresso "seria mau para o sistema e um sinal de que não se aprendeu nada com o processo".
"Enquanto vestir a farda estarei sempre disponível, mas gostaria de ver a sociedade a andar para a frente de outra forma: sem nenhum D. Sebastião, porque Sebastião é cada um de nós", sublinhou Gouveia e Melo, insistindo que é preciso voltar a unir médicos, enfermeiros e políticos e replicar o processo de vacinação com as pessoas que lá estão. "É preciso que o sistema se livre dos militares e digo isto no bom sentido. É mau para a democracia estar tão dependente dos militares", disse.
Evitar precipitações
O vice-almirante defende que foi chamado para coordenar a "task force" com o papel de "ajudar a colocar um penso rápido, mas agora temos de viver sem pensos rápidos".
O regresso de Gouveia e Melo tem sido pedido por algumas entidades, em especial pelo bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, e pelo candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel, no seguimento de alguns problemas que surgiram na administração da terceira dose. Quanto à subida do número de infeções, em Portugal e na Europa, apelou a que haja algum cuidado no tratamento destes números para evitar decisões precipitadas.
Bombeiros terão direito a reforço da vacina
A dose de reforço da vacina contra a covid-19 será dada aos bombeiros envolvidos no transporte de doentes, segundo a norma atualizada pela Direção-Geral da Saúde. As entidades que empregam os profissionais de saúde e os bombeiros devem identificar quem tem direito ao reforço e garantir a convocatória e a imunização. Os outros profissionais de saúde envolvidos na prestação direta de cuidados podem usar a modalidade Casa Aberta nos centros de vacinação, apresentando a cédula profissional ou a declaração da entidade patronal.
A Saber
86% com vacinação
Mais de 8,9 milhões de pessoas têm vacinação completa em Portugal, o que corresponde a 86% da população. Entre os jovens dos 12 aos 17 anos, 87% concluíram o esquema vacinal e 90% tomaram a primeira dose. É o grupo etário com menor percentagem de imunização.
Contrato com Valneva
A Comissão Europeia aprovou o oitavo contrato para a compra de vacina contra a covid. O acordo, celebrado com a farmacêutica francesa Valneva para a aquisição de quase 27 milhões de doses em 2022, prevê a adaptação da vacina a novas estirpes e a possibilidade de encomendar mais 33 milhões de doses em 2023.