Comissão interministerial reúne-se na sexta-feira. Abril quente e seco agrava situação. Barragem que serve o barlavento algarvio em níveis críticos.
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Com um abril quente e seco, e não se antevendo precipitação significativa, a situação de seca meteorológica e hidrológica no país agrava-se, em particular no Sul. A barragem de Bravura, que serve o barlavento algarvio, continua em níveis críticos, apenas a 14% da sua capacidade. Situação que será hoje analisada pelos ministros do Ambiente e da Agricultura e que poderá levar à adoção de medidas de contingência, tal como aconteceu no ano passado.
De acordo com os dados mais recentes da Agência Portuguesa de Ambiente (APA), a 17 de abril o volume armazenado de água tinha descido em 11 bacias hidrográficas e subido em 4, face à semana anterior. Nas Ribeiras do Barlavento, as reservas mantêm-se em níveis muito reduzidos, situação que persiste desde o ano hidrológico de 2017/2018, de acordo com a monitorização de fevereiro. Com Bravura, que está com uso exclusivo para abastecimento, a manter-se nos 14%.
Também a albufeira de Odelouca preocupa, estando a 38% da sua capacidade. Há dois anos, quando, em agosto, o Algarve tinha água apenas até ao final do ano e a situação mais crítica vivia-se no sotavento, o Governo decidiu utilizar a barragem do Funcho (Silves) como reserva estratégica para abastecimento público, conservando Odelouca. Já Odeleite e Beliche, albufeiras de fins múltiplos no sotavento, estão a 55% e 47%, respetivamente (menos 1%).
Se, há um ano, a seca tomava conta de todo o território, atualmente concentra-se na região Sul. "Não tem chovido praticamente em todo o país. A linha do Tejo representava, em março, uma diferença substancial entre o Norte e o Sul", explica, ao JN, o professor da Universidade de Alto Douro e Trás-os-Montes Rui Cortes. Segundo o especialista em recursos hídricos, "a situação vai agravar-se bastante este mês, o que é preocupante". Sobretudo porque "existe um consumo cada vez maior de água à medida que a escassez aumenta", vinca.
De acordo com o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), em março, os valores de precipitação acumulada desde 1 de outubro, quando se iniciou o ano hidrológico, no Baixo Alentejo e grande parte do Algarve eram inferiores a 75%, quando no litoral Norte e Centro e em alguns locais do interior de Trás-os-Montes eram superiores à média. O que se percebe, igualmente, pelas disponibilidades hídricas.
Termómetros nos 30.º graus
E as previsões não dão, para já, sinais de inversão. Para os próximos 15 dias "as notícias não são brilhantes, com alguma chuva hoje a amanhã, que não vai resolver problema absolutamente nenhum, e para a semana temperaturas francamente elevadas, da ordem dos 30 graus", adianta, por sua vez, o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa Carlos Câmara. Para o climatologista é preciso perceber, de vez, que, "em termos probabilísticos, vamos ter mais secas, mais intensas, mais extensas" e menos espaçadas no tempo.
E porque o "jogo está sempre perdido a longo termo, porque as probabilidades estão contra", é urgente adotar "atitudes de adaptação e mitigação". Tanto mais que há "aspetos indiretos ligados à seca" extremamente importantes. Primeiro, porque "se o solo está mais seco vai aquecer muitíssimo mais", aumentando o "risco de incêndio". Depois, ocorrem "ondas de calor mais frequentes e mais intensas, com todos os efeitos na mortalidade", como os últimos anos o demonstram.