Duas horas de encontro entre o PS e o Bloco de Esquerda, com vista a encontrar uma solução governativa estável, acabaram com António Costa muito prudente nas declarações, mas a porta-voz bloquista foi taxativa: "O Governo de Passos Coelho e Paulo Portas acabou".
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Segundo Catarina Martins, "estão criadas as condições de consenso básico" entre socialistas e bloquistas. "Não estamos ainda a trabalhar no orçamento", salientou, na sede nacional do Bloco, na rua da Palma, em Lisboa, para frisar que o BE "assumirá todas as responsabilidades que tiver de assumir".
"Pela nossa parte, estou em condições de dizer, do que depende do Bloco de Esquerda, fica hoje claro que o Governo de Passos Coelho e de Paulo Portas acabou. Temos hoje as condições para termos um Governo e um orçamento dentro da Constituição da República portuguesa, depois de quatro anos de uma direita que não soube nunca respeitar a lei fundamental do país", começou por dizer Catarina.
"Depois da reunião que tivemos hoje, estamos em condições de dizer, sendo certo que temos muitos outros temas sobre os quais temos de trabalhar, estão criadas as condições de consenso básico, para responder às três condições básicas que o Bloco de Esquerda tinha colocado para ser possível para a viabilização de um Governo", frisou, esclarecendo que tais condições são "emprego, salário e pensões".
Para a líder bloquista, o "presidente da República pediu uma solução de estabilidade". "O Bloco de Esquerda não falha a essa solução, não falha à negociação dessa solução", disse, para esclarecer que os dois partidos estiveram então "a negociar a solução política".
Reunião da Comissão Política adiada
Já António Costa atirou para a coligação PSD/CDS-PP "o ónus de criar condições de governabilidade".
"O novo quadro parlamentar traduz uma enorme vontade que se pronunciou por uma mudança política. Essa mudança de política não se traduziu ainda numa mudança de Governo", alegou o secretário-geral do PS.
"Tendo em conta que toda a probabilidade, faltando ainda apurar os resultados da emigração, [é de que] o PSD é o partido com maior representação parlamentar, cabe-lhe o ónus de criar condições de governabilidade no novo quadro parlamentar que existe", acrescentou.
Se num balanço aos encontros com o PCP e o PEV, Costa admitiu que "correram muito bem", quanto à desta manhã considerou que "correu de uma forma muito interessante".
O líder socialista aproveitou ainda para esclarecer que os encontros que tem realizado devem-se ao cenário com o PS se vai confrontar: de uma rejeição de um Governo da coligação no Parlamento. "Não podemos votar as moções de rejeição que já estão anunciadas, sem que haja condições alternativas para a formação de um Governo estável", disse. Daí que, sublinhou, "os contactos com o PCP, o PEV e o Bloco de Esquerda têm permitido criar condições para podermos avaliar se existem condições ou de criar um Governo alternativo".
Costa finalizou as declarações a mandar recados para dentro do partido: "Assim que esteja concluído o meu mandato de proceder aos contactos com todas as forças políticas, com todo o trabalho complementar que se afigura necessário, e puder fazer uma avaliação de quais são as melhores soluções para assegurar um Governo estável, que garanta a mudança política que os portugueses votaram nas urnas, transmiti-lo-ei à Comissão Política do PS, que avaliará a proposta que tiver a apresentar e também se pronunciará se achar que há outras formas mais alargadas de validar a posição do PS".
António Costa assegurou que a Comissão Política do PS não reunirá amanhã, como estava previsto, tendo em conta que as propostas da coligação do PSD/CDS-PP só chegarão esta tarde ao Largo do Rato.