A denúncia de que há russos pró-Kremlin a receber ucranianos na Câmara de Setúbal está a obrigar o Governo a dar explicações sobre a forma como está a ser feito o acolhimento dos refugiados. Vários partidos já pediram audições parlamentares. O PSD exigiu uma intervenção do Ministério Público. A autarquia, liderada pelo PEV, garante que já pediu essa investigação e que "questionou formalmente" o primeiro-ministro. Mas o gabinete de António Costa desmente.
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Em causa, o facto de os refugiados ucranianos estarem a ser recebidos na Câmara de Setúbal por Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município liderado pelo comunista André Martins. Os dois terão fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados daquela autarquia, segundo avançou o Expresso.
A situação foi denunciada, inicialmente no passado dia 8, pela embaixadora ucraniana em Portugal, Inna Ohnivets. Esta sexta-feira, o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal (UCP) disse que casos como o de Setúbal acontecem "por todo o país".
Pavlo Sadoka deu o exemplo de Gondomar e de Aveiro. Mas os presidentes daquelas câmaras, respetivamente Marco Martins e José Ribau Esteves, desmentem
Ainda assim, partidos como o BE e o Livre consideram que o Governo deve dar explicações no Parlamento sobre a forma como os refugiados ucranianos estão a ser recebidos. Por isso, os bloquistas pediram esclarecimentos à ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes.
Esta sexta-feira, a secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Sara Guerreiro, pediu explicações urgentes ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM), assim como aos parceiros locais do ACM, "como a Rede de Centros Locais de apoio à integração de migrantes e associações locais", conforme divulgou em comunicado.
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O PCP veio a público garantir que o acolhimento a refugiados em Setúbal é feito com "critérios de integração" e que não há "sentimentos xenófobos".
Após a polémica, a Câmara disse que a funcionária foi suspensa, que foi pedida uma investigação ao Ministério da Administração Interna e que "questionou formalmente o primeiro-ministro" sobre as denúncias da embaixadora sobre russos pró-Kremlim, "não tendo obtido resposta".
O gabinete de António Costa desmentiu, todavia. "A carta que o presidente da Câmara de Setúbal dirigiu ao primeiro-ministro no dia 11/04/22 é um protesto sobre declarações prestadas pela embaixadora da Ucrânia em Lisboa", assegurou.
O JN sabe que, na missiva, o autarca André Martins não pretendia que se averiguassem as denúncias mas que a embaixadora fosse chamada à atenção "pela grave falha que cometeu". Ainda assim, o gabinete do primeiro-ministro garantiu que a carta "foi reencaminhada para os efeitos tidos por convenientes para o Ministério dos Negócios Estrangeiros".
PSD, PAN, IL e Chega pediram a audição parlamentar do presidente da Câmara de Setúbal. Os sociais-democratas querem ouvir também a embaixadora. E a Distrital de Setúbal do PSD exigiu a intervenção do Ministério Público. O líder do CDS/PP vai pedir à comissária europeia dos Assuntos Internos, Ylva Johansson, para apurar responsabilidades.