A esmagadora maioria dos assistentes pessoais (95,4%) integrados no projeto Modelo de Apoio à Vida Independente (MAVI) considera importante o reconhecimento da profissão de assistente pessoal, revelam os dados do Avaliação Intercalar do MAVI, realizada por Luís Capucha e demais investigadores do ISCTE. Questionada pelo JN, a secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, confessa que só no dia da apresentação do estudo foi confrontada com a questão, mas garante que a mesma merecerá a avaliação do Governo e que a continuidade deste projeto está assegurada.
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O estudo do ISCTE - que obteve das mais elevadas taxas de resposta de sempre, segundo revelou Luís Capucha - revela que cerca de 81% dos assistentes pessoais veem a profissão como um trabalho de futuro em Portugal e que a recomendariam a um amigo. O próprio investigador mencionou a necessidade de reconhecer a carreira destes assistentes. Atualmente, há mais de 700 assistentes pessoais em Portugal e cerca de 1100 pessoas com dificuldades que beneficiam do MAVI, um apoio para atividades essenciais do dia-a-dia como tomar banho ou fazer compras, disse a secretária de Estado ao JN.
Embora seja um projeto piloto, com término apontado para o primeiro trimestre de 2023, a secretária de Estado garantiu ao JN que está "fora de questão" acabar com o MAVI. "Qualquer Governo que pensasse nessa hipótese não estaria certamente em muito boas condições. Porque dar esta liberdade às pessoas, estas ferramentas e mecanismos de autonomia para, depois, ao fim de três anos - e de verdadeiras revoluções nas suas vidas - o virem retirar,...teria impactos imensos na vida destes cidadãos".
O futuro do projeto terá de ser negociado, reconheceu Ana Sofia Antunes - incluindo montantes -, o que poderá implicar alterações nas horas de acompanhamento. Apesar das alterações que possa vir a sofrer, o foco do modelo será assegurar que o MAVI chega ao maior número de pessoas possível para garantir que "lhes damos um número indispensável de horas para que consigam realizar aquelas que são consideradas as tarefas fundamentais em que precisam desse apoio", disse a secretária de Estado.
Mais mulheres apoiadas
O estudo apresentado por Luís Capucha revela que, do universo de destinatários à data de julho de 2021 (869), as mulheres são as mais apoiadas por assistentes pessoais (53%), em comparação com os homens (47%). Mas são os homens que têm mais dificuldades que são limitativas.
Do total de destinatários do programa, 82,2% têm apenas um tipo de limitação, sendo que 49,5% dizem ter uma limitação motora e 30,2% limitação intelectual. Do universo de beneficiários do programa, quase metade (45,6%) são reformados ou pensionistas, 24,9% têm um emprego permanente e 6,1% são estudantes.
O número de pessoas que um mesmo assistente pessoal apoia varia. A maioria (54,8%) acompanha apenas um beneficiário e cerca de 24% dos assistentes acompanha três ou mais pessoas.
Assim como o número de pessoas que acompanham, o salário e as horas de assistência semanais também varia muito. A maior parte das pessoas, cerca de 39%, faz entre 36 e 40 horas semanais e cerca de 17% chega mesmo a ultrapassar as 40 horas por semana. Uma parte destes profissionais (26,7%) aufere menos de 600 euros por mês, sendo que cerca de 48% ganha entre 700 e 900 euros. Apenas uma pequena percentagem, 6,4%, ultrapassa os 900 euros de remuneração.
Dos assistentes pessoais, 93,3% "afirma estar satisfeito a muito satisfeito com as funções que desempenha". Contudo, apesar dos muitos testemunhos positivos, há também notas de exigência de algum reconhecimento e cuidado: "Se querem que nós cuidemos e trabalhemos para pessoas, têm de valorizar, senão vamos fazer outra coisa. Somos responsáveis pela vida de outras pessoas", contou um dos profissionais.