PSD e PS, apontados como aliados, dizem que não está em causa a "formalização política de um bloco central".
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Fez o Governo tudo o que era possível para se evitarem os efeitos negativos da pandemia na economia? A Oposição crê que não. E é isso que vai dizer no debate parlamentar desta sexta-feira sobre o estado da nação. Que a atual crise apenas colocou a nu fragilidades que já existiam e que era possível dar respostas mais profundas. Os maiores ataques surgem à Esquerda. E todos tentam colar o PSD ao Governo. Sociais-democratas e socialistas desmentem, porém, que esteja iminente a "formalização política de um bloco central".
A colagem dos sociais-democratas à ideia de que, com a crise, se tornaram nos reais parceiros de António Costa, ganhou força com o fim dos debates quinzenais, ontem aprovado no Parlamento. "Há, de facto, uma aproximação entre PS e PSD que nos deixa um pouco preocupados porque os portugueses já sentiram os efeitos do que foi o bloco central", acusou o líder parlamentar do PEV, José Luís Ferreira, defendendo que o país aposte no apoio às microempresas, à agricultura familiar, à ferrovia e a serviços públicos como a saúde.
Se o PEV já via sinais de aproximação entre PS e PSD na discussão do modelo de eleição das comissões de coordenação regional, o PCP sentiu essa "convergência" na aprovação do Orçamento Suplementar. "É um documento profundamente desequilibrado entre capital e trabalho e a favor das grandes empresas", ataca a líder parlamentar Paula Santos, sustentando que a solução para a crise "não passa por um regresso ao passado, de cortes" salariais.
Já o líder parlamentar do BE crê que o PS andou, nos últimos meses, a "gerir à peça cada uma das discussões". "Novidade mais recente é a disponibilidade do PSD para essa dança. Há uma ação mais conjunta", concorda Pedro Filipe Soares, que defende a "prioridade ao combate à precariedade laboral, social e habitacional".
"Há um aproveitamento da realidade da pandemia para limitar direitos democráticos", ataca, por sua vez, o líder parlamentar do CDS-PP, Telmo Correia, considerando que se criou uma "espécie de unanimismo pandémico", em que "os dois maiores partidos teriam os direitos todos".
André Ventura, do Chega, alinha no mesmo tom: "É uma sessão legislativa que começou com garantias de estabilidade à Esquerda e, aparentemente, foi encontrada no PSD".
PS fala em "nervos de aço"
O PSD garante que continua a ser o maior opositor de António Costa. Porém, devido à crise, "é preciso manter consensos, onde é possível". "Se pergunta se isto vai traduzir-se numa formalização política de um bloco central, acho que não", assegura o vice-presidente da bancada, Adão Silva, também exigindo soluções económicas e sociais.
"O nosso empenho é que continuemos o caminho que iniciámos em 2015 com os parceiros à nossa Esquerda", vinca a líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes, lembrando que a próxima sessão legislativa vai exigir "nervos de aço" e "determinação" para "encontrar respostas sustentáveis".
De fora da discussão, o PAN quer que a recuperação económica seja uma oportunidade para se atacar uma crise que ficou esquecida: a ambiental. "É preciso reequacionar as opções políticas", defende o líder do partido, André Silva.
Já o líder da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, lamenta que o país se tenha tornado numa "nação submissa". E diz: "Precisa de mais dinamismo, discussão, liberdade".
Pormenores
232 minutos de debate
Quatro horas é quanto deverá durar o último debate do Estado da Nação da atual sessão legislativa. António Costa é o primeiro a intervir.