Ministro João Costa tem "vaidade" nos resultados do relatório da OCDE sobre Educação, mas admite problemas. Secretário de Estado lembra mudanças no regime de acesso. Concurso especial está muito aquém do esperado.
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Menos de um quinto dos estudantes do ensino profissional que completou o Secundário (18%)prosseguiu estudos no Ensino Superior. A proporção chega aos 80% no caso dos colegas dos cursos científico-humanísticos. O Governo quer mais alunos do profissional a ingressarem nas universidades e politécnicos.
O balanço consta do relatório “Education at a Glance 2023” , divulgado ontem pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e que levou o ministro da Educação a afirmar que é motivo para o país estar “vaidoso”. O governante destaca o “salto absolutamente extraordinário” que Portugal deu nos últimos 50 anos, com mais jovens a terminarem o Secundário e a frequentarem o Superior. Na cerimónia de apresentação dos resultados do relatório internacional, João Costa admitiu, contudo, que “há muito a fazer” para valorizar o profissional. Para o ministro, um certo “estigma” em torno das vias profissionais pode explicar a diferença entre os alunos que optam por esses cursos face aos cursos científico-humanísticos, lamentando que sejam frequentes relatos de jovens aconselhados a não seguirem o ensino profissional, “porque são bons alunos”.
Profissional estigmatizado
No ano letivo 2020/2021, estavam inscritos 109 585 nos cursos profissionais - correspondente a 36% do total de alunos matriculados no Secundário -, menos 86 487 do que no ensino regular, de acordo com os dados do InfoEscolas.
João Costa apontou que há alunos do profissional com uma “porta aberta” para várias licenciaturas, nomeadamente nas engenharias, mas não conhecem essa oportunidade por falta de orientação vocacional. “É preciso haver este conhecimento. O estigma alimenta-se do desconhecimento”, alertou.
Na ocasião, o secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira, reconheceu que é preciso “tornar o acesso ao Superior “mais premiável”, nomeadamente para captar mais jovens vindos dos cursos profissionais, bem como os que têm mais de 23 anos.
Para “fortalecer a diversificação das vias” dos alunos que chegam às universidades e politécnicos, o responsável salientou que, nos últimos anos, o regime de acesso ao Superior tem sofrido alterações. “É muito importante que haja perspetivas de futuro para esses estudantes e que haja uma fileira que valorize o esforço de mais de duas décadas de consolidação e de valorização política, social e económica desta via de ensino”, advertiu.
Poucas vagas abertas
Desde 2020 que estes alunos não são obrigados a recorrer aos exames nacionais para concorrerem ao Superior, uma vez que os programas lecionados são diferentes. Deverão, por isso, fazê-lo através de um concurso especial. Porém, a medida está muito aquém do esperado: este ano, abriram apenas 1006 vagas para as vias profissionalizantes. São as instituições de ensino que as definem e que avaliam os candidatos através de exames específicos.
Apesar do relatório da OCDE notar que os programas são uma parte importante do sistema de Superior em alguns dos 48 países analisados - na Áustria, Colômbia, Turquia e nos Estados Unidos, com mais de 40% dos que ingressam, pela primeira vez, no Superior a optarem por essa via -, Portugal não segue essa tendência. Em 2021, inscreveram-se apenas 10,5% em programas de Ensino Superior de ciclo curto, ficando abaixo da média de 20% da OCDE. Em Portugal, os CTeSP - cursos com a duração de dois anos e que conferem um diploma do Ensino Superior - foram introduzidos em 2014 e são ministrados, principalmente, nos institutos politécnicos.