Hospitais com consultas e exames adiados, escolas fechadas e serviços de atendimento ao público a meio gás. Foi este o impacto das primeiras horas de greve da Função Pública na zona Norte do país. Os trabalhadores reivindicam aumentos salariais que respondam à inflação e a valorização das carreiras.
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O Hospital de S. João, no Porto, é um dos mais afetados pela paralisação. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte (STFPSN), a unidade de saúde regista uma adesão de cerca de 85% à greve. Mas há hospitais com uma adesão superior, chegando a mais de 90% no Hospital de Braga. O maior impacto faz sentir-se nas consultas externas, cirurgias programadas e análises clínicas.
Jorge Amaral foi um dos afetados pela greve. Vive em Famalicão e, esta sexta-feira, cancelou "outros afazeres" para acompanhar o irmão a uma consulta de oftalmologia no Hospital de S. João. Quando chegou à unidade de saúde, soube que a consulta tinha sido cancelada devido à greve da Administração Pública.
O mesmo aconteceu a Mário Carneiro, que se ausentou do trabalho para acompanhar os pais a consultas. O atendimento da mãe acabou por ser cancelado. A meio da manhã, Mário ainda não sabia se o pai iria ser atendido. "A consulta do meu pai é urgente. Foi operado a um tumor na bexiga e preocupa-me que fique sem esta consulta", explicou.
A greve ditou ainda o encerramento de várias escolas na zona Norte. Foi o caso da Escola Fontes Pereira de Melo, no Porto, onde um papel colado no portão informava pais e alunos que as atividades letivas estavam suspensas. O cenário repetia-se poucos metros abaixo, na Escola Clara de Resende.
Ana Pimentel, mãe de dois alunos, não esconde o "transtorno". "Quando chegámos à escola ainda era uma incógnita se haveria ou não aulas. Para nós, pais, é bastante complicado fazer essa gestão e saber o que fazer caso não haja aulas", confessou a mãe, admitindo concordar com a luta do pessoal docente e não docente.
De acordo com Lurdes Ribeiro, dirigente do STFPSN e assistente operacional, "há escolas encerradas desde a Póvoa de Varzim até ao Marco de Canavezes". Deu como exemplo, entre outras, as escolas do Cerco, Filipa Vilhena e Aurélia de Sousa, no Porto, e os agrupamentos escolares Costa Matos e Canelas, em Gaia.
Sem dados concretos sobre a adesão à paralisação por parte dos professores, Francisco Gonçalves, coordenador do Sindicato dos Professores do Norte (SPN) e secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) adiantou que, por volta das 8.30 horas, havia já "muitas escolas encerradas". A maior parte devido à "adesão do pessoal não docente".
"O diretor de cada escola tem que verificar se tem condições de segurança para a escola funcionar ou não e, portanto, há muitas que estão encerradas por essa razão", detalhou o dirigente sindical.
Segundo Francisco Gonçalves, os professores aderiram à greve convocada pela Frente Comum como forma de protesto contra o Orçamente do Estado, que "não responde aos problemas dos professores e não tem dotação orçamental suficiente para solucionar problemas como a precariedade, a carreira, cotas, vagas".
Lurdes Ribeiro acrescentou: "a maioria dos trabalhadores da função pública vai ter um aumento de 52 euros. No meu caso e no de milhares de assistentes operacionais, passo de 705 euros para 761, a partir de janeiro. Isto é inaceitável, não só a nível salarial, mas também no que se refere às carreiras. Os trabalhadores estão mesmo desagradados com estas manobras de fingir que dão e ao mesmo tempo não estão a dar".
Loja do cidadão a meio gás
Também a Loja do Cidadão, no Porto, está a funcionar a meio-gás. Ao que o JN conseguiu apurar, o serviço de atendimento da Segurança Social esteve encerrado durante a manhã e o das Finanças contou apenas com dois balcões abertos.