Os presidentes das associações de diretores dos estabelecimentos públicos garantem que a paralisação, convocada pelo S.TO.P., não está a ter impacto nas escolas. Quase todas estão a funcionar normalmente. Há alunos com furos, mas, na maioria dos casos, é por ainda não terem todos os professores.
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A maior preocupação dos diretores é mesmo com o facto de ainda haver milhares de alunos sem todos os docentes atribuídos. No sul, a escassez de profissionais está a ditar a dificuldade nas colocações. A norte, resulta, sobretudo, de baixas por doença. Ou seja, são professores que tinham turmas atribuídas, mas, no arranque do ano letivo, comunicaram às escolas que estão de baixa e tenta-se recrutar, agora, substitutos. Na sexta-feira passada, estimava-se que ainda havia 80 mil estudantes sem todos os docentes.
Quanto à paralisação que começou esta segunda-feira e prolongar-se-á até à próxima sexta-feira, com uma manifestação marcada em Lisboa, os efeitos são muito residuais. "As escolas estão a funcionar normalmente e os efeitos de greve são reduzidíssimos. Foram pouquíssimas as escolas que fecharam", garante Filinto Lima, sublinhando que, nos poucos casos em que houve encerramento de estabelecimentos, foi por adesão à greve dos assistentes operacionais. O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) reconhece que ainda há muitos alunos sem todas as aulas, porque "falta colocar professores".
Este retrato do arranque da segunda semana de aulas é corroborado por Manuel António Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares. A greve "não se nota muito nas escolas. De um modo geral, o ano letivo está a arrancar com normalidade, com exceção das escolas onde faltam professores porque ainda aguardam por colocações. E isso é muito grave", adverte o diretor. Esta é, aliás, uma das principais preocupações dos diretores.
Não são as greves que destroem a escola pública
No agrupamento de Escolas de São Teotónio, em Odemira, seis escolas fecharam por causa da greve, garante André Pestana. O coordenador do S.TO.P. juntou-se a um protesto de profissionais de educação, em frente à encerrada EB2,3 de São Teotónio. Nos cartazes, lê-se que, só naquele estabelecimento de ensino, há 18 turmas sem todos os professores.
"Isto é um grande exemplo de cidadania que estes professionais de educação estão a dar ao país no início da semana de greve. Neste agrupamento, temos 18 turmas sem todos os professores. Em todas as turmas do 3º Ciclo do agrupamento, não há professor de inglês", afiança André Pestana, convencido de que há tentativas de "caluniar e de atacar esta greve para que a população portuguesa não entenda os verdadeiros motivos que nos levam à luta". E deixa críticas ao comentador Marques Mendes por, no domingo à noite na SIC, ter afirmado que um "professor com 15 anos de profissão ganha 41 mil euros por ano. Isso é falso, não ganha nem metade", insiste.
O coordenador do S.TO.P. entende que não são as paralisações que estão a destruir a escola pública, mas as políticas de educação deste e de anteriores governos por terem desvalorizados quem trabalha nas escolas. "Hoje temos falta de profissionais, o que prejudica os vossos filhos e os vossos netos. Nós representamos todos os profissionais de educação. Não houve greves e manifestações com força nos últimos 40 anos, o que levou [à implementação] políticas educativas sucessivas por vários Governos, mas também por este Governo, que fizeram com que, agora, faltem cerca de 100 mil alunos em todo o país".
André Pestana apela à participação de todos os profissionais de Educação na manifestação da próxima sexta-feira, que começará, pelas 14 horas, em frente à presidência do Conselho de Ministros. "Já percebemos que não é o ministro da Educação que decide, mas o ministro da Finanças. Temos de pressionar o ministro das Finanças e o primeiro-ministro. Rumaremos a partir daí para o Parlamento", sustenta. Para o coordenador do S.TO.P., esta "não é uma luta corporativa". Entende que é o momento de agir e de lutar, antes da apresentação do Orçamento do Estado para 2024 na Assembleia da República (o que está prevista para 13 de outubro). "Tem que ser, agora, em setembro e em outubro, antes do Orçamento do Estado, que temos de estar na luta".