Especialistas favoráveis a que se passe a abordar a covid como mais uma doença respiratória, como a gripe.
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A menor severidade da doença provocada pela variante ómicron, aliada à elevada cobertura vacinal da população, justificará uma mudança de estratégia a curto prazo. Tratando o SARS-CoV-2 como mais um vírus respiratório, com reforços vacinais nos mais vulneráveis, à semelhança do que se faz com a gripe. No pressuposto de que uma nova variante, de maior gravidade, não surgirá.
Para os especialistas ouvidos pelo JN, a certeza é de que o vírus veio para ficar e que a pandemia, tal como todas as anteriores, chegará ao fim. "Todas as pandemias acabam e esta não será exceção", diz Filipe Froes, coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a covid-19.
Chegados a esse ponto, é altura de virar a página e encarar o SARS-CoV-2 como mais um vírus respiratório. "Já ninguém questiona que não vamos erradicar o vírus, vamos ter que aprender a viver com ele como vivemos com outras infeções respiratórias que são tanto mais perigosas quanto mais vulneráveis as pessoas", frisa Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM).
"É inevitável, a questão é saber qual a melhor altura. Depois, gripalizar, adotar as medidas que temos para a gripe", frisa Filipe Froes. Tanto mais que a atual intensidade torna impossível "controlar isto de outra forma". Identificar os casos, rastrear contactos, determinar isolamentos "é uma máquina que não funciona com um vírus tão rápido", explica, por sua vez, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes. Que acredita que, pela primavera, mais de sete milhões tenham já sido infetados.
E poderá ser essa a altura certa para mudar de estratégia, até porque, "felizmente, este vírus é menos patogénico", afirma o também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. "Temos quatro coronavírus que causam constipações todos os invernos, temos alguma proteção, mas a cada dois a cinco anos seremos reinfetados, porque vão mudando e evoluindo por forma a fugirem aos nossos anticorpos", desmonta Carmo Gomes, para quem "o mais provável é que o SARS-CoV-2 evolua nesse sentido".
Proteger os mais frágeis
Mudança de estratégia que deve assentar na proteção da população mais vulnerável. "Vejo como cenário possível o reforço de vacinação periódica, porventura anual, como a gripe, para essa população", diz o investigador Miguel Prudêncio, sublinhado falar a nível pessoal, porque nem todos os pares comungam da ideia, e com base no conhecimento deste momento.
Quanto à restante população, "a não ser que a situação mude drasticamente, com outra variante, que não está em cima da mesa, não parecem fazer sentido reforços regulares". Sendo que, entende o investigador do IMM, "Portugal está numa situação privilegiada para fazer a mudança de paradigma devido à taxa de vacinação que tem".