Na maior campanha de vacinação de sempre contra a gripe, apela-se à calma. E dão-se garantias: há vacinas para todos.
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Mas com a SARS-CoV-2 a circular, a procura pressionou ontem vários centros de saúde, que em alguma horas esgotaram os stocks. O JN sabe que, em vésperas do arranque da 2.a fase, as administrações regionais de Saúde (ARS) ficaram a saber que iriam receber apenas 30% das doses da tranche desta semana. A fatia de leão foi para as farmácias que, num acordo com o Governo, vão imunizar a população acima dos 65 anos.
A denúncia é do presidente da Unidades de Saúde Familiar - Associação Nacional e confirmada pelo JN junto das ARS Centro e Norte. "Soubemos na quinta-feira passada que 70% da última tranche que iria para as unidades de saúde iam para as farmácias. Só numa ARS (Centro), foram desviadas 40 mil doses. As unidades estão com doses muito reduzidas de vacinas", revelou Diogo Urjais.
Questionada, a Direção-Geral da Saúde (DGS) garantiu que, "apesar de parte desta tranche ter sido distribuída às farmácias, ainda existe stock disponível relativo à distribuição de semanas anteriores". Sendo que, frisa, "serão distribuídas mais vacinas esta semana, esperando-se alcançar um stock total de 1,4 milhões de vacinas distribuídas (entre contingente SNS e privado)". Em causa, refira-se, está o acordo celebrado entre a tutela e a Associação Nacional de Farmácias para que as farmácias administrem, gratuitamente, a vacina tetravalente à população idosa.
O objetivo, reitera o Ministério da Saúde, "é aliviar a pressão nos cuidados de saúde primários". De acordo com a DGS, "as doses que estão a ser distribuídas às farmácias, cerca de cem mil (de um total de 200 mil), destinam-se a utentes do SNS".
ARS garantem imunizaçãO
Das ARS, palavras de normalidade. A do Norte - onde ontem houve centros de saúde a esgotarem o stock semanal - confirma que "esta semana as vacinas vão continuar a ser reforçadas". Contudo, "se calhar não na quantidade considerada desejável". No Centro, "a vacinação está a decorrer normalmente", tendo a ARS recebido, ontem, "mais uma tranche faseada de vacinas, estando a aguardar nova tranche até final da semana". Em Lisboa, "não há um único problema com o abastecimento de vacinas nos centros de saúde".
Apela-se, por isso, à calma. Na voz do presidente da República, que foi ontem imunizado, garantindo vacinas para todos: "Aquilo que me foi dito, e a senhora ministra [da Saúde] acaba de confirmar, é que até à primeira semana de dezembro [...] todos os que queiram vacinar-se irão vacinar-se ".
Os médicos de Medicina Geral e Familiar, na pessoa de Rui Nogueira, lembram que estamos "a antecipar a vacinação porque precisamos de vacinar mais pessoas". Não sendo possível, "nem desejável, ter vacinas para todos ao mesmo tempo".
Remessas esgotadas em poucas horas para quem não é de risco
Além dos idosos, e dos grupos de risco não abrangidos na 1.a fase, ontem foi o dia em que as farmácias também começaram a disponibilizar vacinas à restante população, que as podem comprar mediante receita médica. Porém, das 500 mil encomendadas à farmacêutica Mylan, apenas uma pequena parte tinha chegado. Farmácias contactadas pelo JN revelaram terem esgotado o "stock" em poucas horas, não conseguindo sequer responder às encomendas prévias. Conceição Machado, diretora técnica da Farmácia Estação, no Porto, adiantou que ficaram sem vacinas uma hora após a abertura. Esta farmácia só recebeu 10% das doses encomendadas.