Há autarquias que distribuem jantares e levam comida a casa de quem está em isolamento. "Existe pobreza encoberta de que por vezes só as escolas dão conta", frisa diretor.
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Há mais alunos a pedir as refeições takeaway distribuídas pelos agrupamentos, relativamente à primeira fase da pandemia, e mais filhos de trabalhadores de serviços essenciais em escolas de acolhimento. Já há câmaras a servir jantares, a preferir entregar cabazes de alimentos às famílias ou a levar a comida a casa de quem está em isolamento.
Há autarquias que já o notam e o Ministério da Educação confirma: "O número de refeições servidas nas escolas de acolhimento tem aumentado a cada dia, com uma média superior a 20 mil diárias durante esta semana, tendo chegado às 27 mil na sexta-feira".
Aveiro, por exemplo, optou por converter as refeições em cabazes alimentares e entregá-los às famílias. Arroz, massa, feijão, grão, atum, azeite, fruta e carne são os alimentos que constituem cada um dos 933 cabazes que a autarquia, em parceria com as escolas do concelho, entregou aos alunos dos escalões A e B da Ação Social Escolar esta semana. Ao cabaz dos alunos do Pré-Escolar e do 1.º ciclo foram adicionados dez pacotes de leite individual que não seria consumido durante este período.
"É uma medida mais universal" que evita dois problemas, sublinha ao JN Rogério Carlos, adjunto do presidente: os ajuntamentos e a deslocação de crianças e jovens às cantinas.
Emocionado, o diretor da Secundária Homem de Cristo, Vítor Marques, não escondia o alívio pela ajuda da autarquia já que, no ano passado, foi a escola, através do seu orçamento, que suportou as refeições dos alunos.
"Isto não é nada a que já não estivéssemos habituados", conta, recordando que "onde hoje vemos funcionárias da empresa responsável pela cantina, tínhamos professores, diretores de turma ou pessoal não docente a ajudar".
Crianças na escola
Setúbal é uma das câmaras com mais pedidos - na semana passada, serviu em média, por dia, 162 refeições, quando em março nunca chegou às 70 e já duplicou os pontos de recolha. Gaia, que distribuiu 400 refeições, também nota "um ligeiro aumento".
Oeiras serviu mais de 650 refeições por dia; o Porto, 275, Braga 81, Gondomar 250 e em Matosinhos (que serviu em média 170 refeições) o serviço está disponível para todos os alunos e não apenas para os da Ação Social. Almada serve um pack diário com almoço, jantar e dois lanches (478 alunos, na semana passada) e Mafra também serve almoços e jantares a 502 alunos do Pré-Escolar e do 1.º ciclo.
"A pandemia está a esmagar a franja mais deprimida da população e há pobreza encoberta que às vezes só as escolas dão conta", frisa o presidente da associação nacional de dirigentes escolares, Manuel Pereira.
O número de alunos filhos de trabalhadores em serviços essenciais também aumentou. Na semana passada, as escolas de acolhimento receberam uma média diária de 1600 crianças. No ano passado, entre março e junho, o número foi crescendo tendo alcançado uma média diária superior a 1100 só no final do ano letivo.
Para o presidente da Confederação Nacional de Pais, estes serviços são essenciais mas Jorge Ascenção assume já ter recebido queixas, como a de uma enfermeira mãe de um aluno com espetro de autismo a quem foi recusado vaga na escola de acolhimento "por ter autonomia" ou por os alunos ficarem o dia inteiro com uma assistente operacional.
À margem
Creches
Gondomar, Oeiras e Mafra são exemplos de autarquias que alargaram às creches o princípio de escolas de acolhimento para filhos de trabalhadores essenciais.
Computadores
As autarquias estão a apurar o material em falta. Bragança, por exemplo, vai emprestar 68 portáteis e 80 routers a alunos do 1.º ciclo. Braga criou um banco de recolha e de doação de equipamentos e, este ano, já adquiriu mais 1500 computadores e 400 hotspot.