Há mais mulheres a liderar câmaras, mas a política ainda é um "mundo de homens"
Eleitores deram a presidência de 48 municípios a candidatas, mas as autarcas ainda não chegam sequer a 16% do universo total das 308 autarquias. Conciliação com a vida familiar é um obstáculo.
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Desde o 25 de Abril que não há tantas mulheres eleitas para liderar o destino das câmaras. No último domingo, os eleitores escolheram 48. Um aumento face aos atos eleitorais anteriores (foram 29 em 2021 e 32 em 2017, por exemplo), mas, ainda assim, não chegam sequer aos 16% (15,58%) no universo dos 308 municípios. Apesar das quotas na Lei da Paridade, ainda há caminho a fazer para derrubar barreiras na mentalidade e práticas de trabalho, que dificultam a conciliação com a vida familiar. E para que o equilíbrio surja, também, na distribuição de pastas e de poder nos executivos.
As autarcas eleitas que falaram ao JN garantem que não sentem discriminação, mas são raras aquelas que não têm, no seu percurso, episódios que revelam dificuldades acrescidas por serem mulheres. Fermelinda Carvalho, que obteve maioria absoluta (seis em sete lugares) para o seu novo mandato em Portalegre (PSD/CDS) e já antes presidira à Câmara de Arronches, garante que sempre se sentiu "completamente enquadrada". Ainda assim, num debate nesta última campanha, ouviu um adversário dizer-lhe que "não pode fazer na Câmara uma gestão doméstica", conta. "Eu, por ser mulher, faço uma gestão doméstica? Não admito, é das coisas mais horríveis que já me disseram".
"Senti muito apoio no terreno, porque apareceu uma candidata à qual reconheciam mérito e capacidade de trabalho", disse Isabel Ferreira, presidente da Câmara de Bragança (Foto: Glória Lopes)