Ómicron pode levar infeções diárias acima das 15 mil. Especialistas admitem regresso de lotação dos espaços.
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Os mais recentes dados sobre a prevalência da ómicron e a sua duplicação a cada dois dias fazem antever um disparar das infeções diárias. Mais do que duplicando. Podendo mesmo Portugal chegar ao final deste ano com mais casos do que no histórico mês de janeiro de 2021, acima dos 16 mil. Com elevados graus de incerteza, enquanto se desconhecem as características desta variante e consequente impactos na hospitalização e mortalidade. Para já, os dados apontam para menor gravidade.
Os cálculos são do matemático Carlos Antunes, feitos com várias incertezas em relação à Ómicron, sendo, por isso, estimativas com erro. "O que os indicadores de progressão da ómicron dizem é que podemos chegar ao fim do ano acima dos 15 mil, com uma possibilidade grande de passar os 16 mil casos". Valores assim acima do máximo de 16 432 novas infeções registadas a 28 de janeiro passado. Sendo que "quase todos os países já ultrapassaram os valores de contágio de janeiro, sendo expectável que aconteça o mesmo, porque não estamos a alterar medidas".
Gravidade é incógnita
Isto tendo por base uma transmissibilidade da nova variante três a quatro vezes superior. Se, na Delta, o Rt está entre 1 e 1.05, os estudos colocam a ómicron entre 3 e 4.8. Que é muito variável nos países analisados, com o Reino Unido no extremo, com cobertura vacinal menor, sobretudo com a AstraZeneca, vacina que mais efetividade perde com o passar do tempo.
O que falta saber, como vincou a ministra da Saúde (ler pág. 9), é a dimensão da gravidade desta variante. "É previsível um grande aumento do número de casos, com a esperança de que não tão rapidamente como no Reino Unido ou Noruega. O que é relevante, e não é claro, é o quadro clínico dos doentes", diz o epidemiologista Carmo Gomes. Aparentemente, "é menos agressiva do que a Delta".
No pressuposto de menor gravidade, Carlos Antunes estima 17% de internados face ao número de casos; 14% em Intensivos face aos internados; e 12% de óbitos face às UCI. No pior cenário, 16/17 mil infeções no final do ano poderão corresponder a 3100 hospitalizações, 440 em UCI e 50 óbitos, furando as linhas vermelhas.
E é este um dos perigos da ómicron, se três vezes mais transmissível, diz Carmo Gomes. "Porque mesmo que seja mais benigna, há um aumento muito grande de casos num curto período de tempo. E mesmo que em percentagem o impacto seja menor nos internamentos, o número absoluto é alto, podendo causar problemas ao Serviço Nacional de Saúde". Defendendo ser "preciso mais tempo para medir o impacto da ómicron nos próximos dias". Pelo que devemos "acelerar o mais que pudermos a vacinação e pôr em cima da mesa a possibilidade de aumentar as medidas que promovam a diminuição de contactos".
Tomar medidas?
Nomeadamente, defende Carlos Antunes, "voltar a restringir as lotações nos restaurantes, salas de espetáculos e transportes". Naquilo que considera "medidas suaves". Mais cautelosa, a pneumologista Raquel Duarte sublinha que "existe já um planeamento estratégico a pensar em vários cenários". Apesar de não haver reuniões do Infarmed, os peritos continuam a monitorizar de perto a situação. "Não está nada parado, mas planeado, sendo importante perceber qual o efeito das medidas, como a dose de reforço".
Para Raquel Duarte, "provavelmente virá a fazer sentido olhar às lotações dos espaços". O importante, vinca a perita, "é estarmos preparados para ajustar medidas de acordo com as necessidades", tanto mais que a época natalícia acarreta maiores riscos. Óscar Felgueiras admite que a questão das lotações possa "fazer sentido", mas entende ser necessário ter mais dados em cima da mesa sobre as hospitalizações.
INSA alerta para pressão no SNS e mortalidade alta
Incidência por 100 mil, incidência acima dos 65 anos e isolamento e rastreamento são três de oito indicadores das linhas vermelhas em risco muito elevado. O INSA coloca a pandemia com "intensidade elevada, de tendência crescente". Com "pressão nos serviços de saúde e impactos na mortalidade elevados". Com a propagação da ómicron e o Natal, admite a necessidade de "vir a ponderar o reforço das medidas de proteção se se observar um agravamento da situação".