Habitação colaborativa permite envelhecer sem solidão: 60 casas prontas em 2026
Em todo o país estão a ser construídas quase seis dezenas de unidades, que vão começar a funcionar durante o ano de 2026.
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Até ao final de março de 2026 terão de estar prontas a entrar em funcionamento, em Portugal, cerca de 60 habitações colaborativas. São equipamentos sociais inovadores e estão distribuídos por todo o país. Vão criar quase dois mil novos lugares para pessoas em situação de vulnerabilidade e representam um investimento público a rondar os 60 milhões de euros, financiados no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.
Fonte oficial do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social disse, ao JN, que na primeira fase de candidaturas foram aprovadas 22, “20 das quais para habitação colaborativa e duas para comunidade de inserção”. Só que no decurso da fase de execução foram “revogadas cinco candidaturas” para a primeira resposta e uma para a segunda. Na segunda fase, foram “contratualizadas 42 candidaturas” para habitação colaborativa com tipologias T0, T1 e T2.
Esta nova geração de equipamentos e respostas sociais está a ser criada, nomeadamente, por instituições particulares de solidariedade social. É o caso do Centro Social, Recreativo e Cultural de Vilar de Maçada, no concelho de Alijó, e da Associação de Solidariedade Social São Pedro, em Sanfins, no concelho de Valpaços. Em ambos os casos, as unidades de habitação colaborativa estão a nascer da reconstrução de edifícios históricos dos quais só foi aproveitada a fachada.
Modelo “feliz”
Alexandra Magalhães, diretora de serviços da instituição de Vilar de Maçada, considera este tipo de resposta um “modelo de habitação feliz”, que permite “envelhecer em comunidade e sem solidão”. O edifício que está a ser construído vai ter “um T0, um T1 e seis T2”. E dá exemplos do tipo de pessoas que podem candidatar-se: “pode ser um casal, podem ser duas amigas ou duas irmãs, pessoas sem condições de habitabilidade ou alguém que foi emigrante e quer voltar às suas raízes sem ter casa lá”.
Além dos apartamentos, vai ter espaços comuns, como “uma horta, um ginásio, uma lavandaria e zona de convívio”. Os serviços de que necessitem, de alimentação, por exemplo, serão prestados pelo centro social.
Alexandra Magalhães anda feliz por poder concretizar mais esta ambição, que também é uma necessidade para aquela vila do concelho de Alijó. Lembra que quando, há 20 anos, chegou ao Centro Social, Recreativo e Cultural havia cinco trabalhadores. Hoje são 68, na sequência do crescimento das respostas sociais. Há duas décadas havia apenas apoio domiciliário e centro de dia, que atualmente servem 30 pessoas. Hoje tem também creche (21), ateliê de tempos livres (40), estrutura residencial para idosos (56) e seis moradias que formam uma aldeia-lar com capacidade para 20 pessoas. “Se não acreditarmos que o sonho pode ser realidade, nem sequer sonho é”, frisa, acrescentando que “a lista de espera é muito grande”.
A Associação de Solidariedade Social São Pedro nasceu em 1998 em Sanfins, Valpaços. Atualmente tem uma estrutura residencial para idosos em Sanfins, com 51 utentes, e outra em Santa Maria de Émeres, com 20. Leva apoio domiciliário a cerca de 30 pessoas de várias freguesias de Valpaços e tem ainda condições para acolher refugiados e para dar apoio a pessoas com doenças mentais dos concelhos de Murça, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Vinhais, Mirandela e Valpaços.
Jardim para passear
A habitação colaborativa cuja construção está a começar vai ter oito apartamentos de tipologias T0, T1 e T2, com capacidade de alojamento para 19 pessoas. Cada uma das habitações terá um jardim para que possam cuidar dele. Leonardo Batista, presidente da associação, explica que vão viver nestas residências “pessoas que ainda são autónomas”, que tanto podem ser “jovens e adultos que tenham dificuldades, por exemplo, ao nível da habitação, como pessoas com deficiência, com doenças mentais ou outras vulnerabilidades”.
Segundo a educadora social Madalena Gonçalves, este modelo privilegia a “socialização”, para que “não se percam os vínculos” e não tenham a ideia de que “por ter uma determinada vulnerabilidade ou patologia já não se é útil à sociedade”. De resto, o objetivo é manter o convívio e a ligação entre os utentes e os moradores de Sanfins.