O debate entre Mariana Mortágua e André Ventura durou poucos minutos até as acusações entre os líderes aparecerem. A coordenadora do BE acusou Ventura de ser financiado por donos dos CTT e interesses imobiliários e o líder do Chega respondeu com o caso de Ricardo Robles.
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No frente a frente que juntou os dois espectros políticos mais distantes e antagónicos, esta terça-feira, na RTP3, ambos acusaram o adversário de ter terroristas nas listas. Mortágua, mais ao ataque, acusou o Chega de querer despedir 67 mil professores. Ventura respondia sempre: “É falso”.
O primeiro ponto quente do debate foi quando Mariana Mortágua acusou Ventura de ter nas listas o deputado Diogo Pacheco de Amorim “que integrava a organização terrorista MDLP [Movimento Democrático de Libertação de Portugal]” que foi “responsável pelo assassinato do padre Max”.
“Diogo Pacheco de Amorim nunca foi condenado por terrorismo em Portugal. O seus candidatos foram condenados em Portugal por terrorismo”, ripostou Ventura. “É falso”, insistia Mariana. “É verdade, pelo menos dois candidatos seus foram condenados por terrorismo. Foram dois membros das FP-25. Mataram bebés, no fundo são assassinos, vocês dão-se bem com essa gente”, completou Ventura, sem dizer os nomes: “Não sei os nomes mas sei que foram. Sei que um deles se chamava Abílio Neto”. “É falso”, asseverava a coordenadora do BE.
Sobre habitação, Mariana Mortágua justificou a proposta do BE de proibir a compra de casa a não residentes. E atirou contra os vistos gold que André Ventura defende. “São uma porta aberta para a corrupção”, acusou. “Isso é um disparate comunista”, respondeu Ventura.
Para a coordenadora do BE, os vistos gold “são uma porta aberta para a corrupção através de capital estrangeiro”. Para o líder do Chega, o programa visa “captar investimento que vai para a Grécia, para Itália, para Espanha”. E cita dados oficiais que estimam em 4,8 mil milhões de euros o benefício económico dos vistos gold em Portugal.
Depois, Mariana Mortágua acusou Ventura de apoiar a privatização dos CTT enquanto era financiado pelos donos da empresa. “O Chega defende propostas que vão ao encontro de grupos e interesses que financiam o Chega. E posso-lhe dizer que isso acontece nos interesses imobiliários e aconteceu nos CTT. Estava a defender a privatização dos CTT e estava a ser financiado pelos donos dos CTT”.
“Financiado? Sabe que isso é falso”, respondeu Ventura. Questionado pelo jornalista João Adelino Faria, André Ventura não desmentiu: “O financiamento do Chega é público e a lista é pública todos os anos, não há nada a esconder”. Na resposta, não deixou a acusação sem resposta: “Não fui eu que tive um vereador que andava a vender casas ao triplo do preço. Eu não tenho alojamento local como tinha a sua anterior coordenadora. Sabe o que é que se chama a isso? Hipocrisia e cara de pau”.
"Ninguém se quer sentar ao seu lado", atira Mariana
À medida que o debate se encaminhava para o final, ficava mais quente e multiplicavam-se as acusações mútuas. Quando André Ventura defendeu uma imigração regulada e condicionada às necessidades de emprego do país, Mariana Mortágua foi mais incisiva: “Ninguém se quer sentar ao seu lado por causa das posições racistas e xenófobas que tem, nomeadamente sobre imigração”.
Do outro lado, a resposta foi dada no mesmo tom: “A ideia da Mariana Mortágua sobre a imigração é como o despejo da sua avó, é uma fantasia. É a malta que vive no Príncipe Real, que acha que está tudo bem. É malta de Esquerda queque, de Esquerda fina”.
Sobre o caso da avó, Mariana Mortágua clarificou: “Eu não minto. A minha avó tinha 80 anos quando ficou a saber que aos 85 a renda podia saltar. Se não acha que isto mete medo a uma idosa, é não só porque defende uma lei cruel das rendas como não quer saber da habitação”. E acusou: “O Chega defende o regresso da lei Cristas”.
A partir daqui, a coordenadora do BE revelou o que leu no programa do Chega e desfiou acusações. Primeiro recorreu ao congresso em que André Ventura prometeu cortar 400 milhões de euros nos apoios à ideologia de género, onde se inclui também o apoio às vítimas de violência doméstica: “O Chega é uma ameaça a toda a política que quer proteger as mulheres que são vítimas de violência doméstica”.
Depois, acusou Ventura de inscrever, no programa, o despedimento de 67 mil professores. “É falso”, dizia Ventura. E a Mortágua justificava: “O seu porta-voz para a educação disse que 'reduzir currículos permite uma poupança de mil milhões de euros por ano'. Eu devo-lhe dizer que, a não ser que reduzir currículos seja reduzir folhas de papel, reduzir currículos nas escolas significa despedir professores. Mil milhões de euros significa 67 mil professores, é a proposta”, afirmou. num denate em que a coordenadora do Be acusou várias vezes Ventura de recorrer a "truques".
Até ao final o tom não mudou. Num momento em que Mariana Mortágua fixou o olhar em André Ventura, este soltou: “Mas acha que me está a intimidar? Mas acha que me intimida a mim?”. Logo depois, Ventura acusou-a de trazer “falsidade ao debate” e de ter “hipocrisia própria”. A candidata do BE concluiu a dizer que está “mais próxima de integrar uma governação com o PS do que o Chega de alcançar um acordo com partidos a quem chama prostitutas políticas”, referindo-se à forma como Ventura classificou o PSD.