Os médicos estão em "alerta" com a hepatite aguda de origem desconhecida que está a afetar menores de dez anos na Europa e Estados Unidos. A agressividade da doença está a obrigar a transplantes de fígado em idades muito precoces, um procedimento raro até aqui.
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Em Portugal, não havia, até esta quinta-feira, registo de casos, mas o reporte de crianças doentes em Espanha pôs médicos e autoridades de saúde de sobreaviso.
Os primeiros casos foram reportados no início do mês na Escócia. Ontem somavam-se 108 no Reino Unido e a infeção alastrou a vários países da Europa e Estados Unidos. No Reino Unido, oito crianças receberam um transplante de fígado, segundo o Governo britânico. Em Espanha, foi transplantado um bebé com 22 meses, contou ao JN, Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais da Direção-Geral da Saúde (DGS).
"A situação merece preocupação porque está aqui à nossa volta e já vimos este filme", disse o especialista, referindo-se à capacidade de disseminação dos vírus. Tato Marinho diz que pais e educadores devem estar em "alerta" e "preocupados", mas não em pânico.
Em relação aos médicos, pediatras e outros especialistas que estão nas urgências, assegurou que estão a par da situação e sensíveis à necessidade de prestar mais atenção ao fígado, pedindo análises que permitem detetar a inflamação do órgão.
Sinais pouco específicos
Os sintomas desta hepatite de origem desconhecida - que nada tem a ver com os tipos A, B, C, D e E da hepatite - são parecidos com outras doenças, como febre ligeira, vómitos, falta de apetite, dores de barriga, diarreia e alguma prostração. Há um sinal revelador de doença do fígado, os olhos amarelos (icterícia), mas nem sempre está presente.
Os casos reportados estão sob investigação e para já está afastada qualquer relação com a vacina da covid-19. As pistas apontam para uma eventual ligação ao adenovírus. Em Inglaterra, 77% dos doentes testaram positivo para o adenovírus, que normalmente afeta as vias respiratórias.
"Há uma suspeita de que o adenovírus do tipo 41, por alguma razão, se tornou mais agressivo para o fígado, mas ainda não há certezas de nada", afirmou Rui Tato Marinho. A confirmar-se esta origem, é importante a lavagem frequente das mãos para evitar a disseminação do vírus.
De acordo com o especialista, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) deverá emitir um comunicado de atualização dos casos esta sexta-feira.