Histórias de quatro professores no dia deles: a relação com os alunos é o mais “gratificante”
No dia mundial do professor, o JN ouviu uma docente que adiou reforma, um colocado a mais de 300 quilómetros de casa e dois não profissionalizados.
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Isabel Aguiar tem 47 anos de serviço e força para continuar na escola. Jorge Oliveira é de Braga, dá aulas em Portalegre, e vai ter direito ao apoio à deslocação. Andreia de Almeida e Paulo Panda mudaram de vida e são dois casos de “não profissionalizados” (sem mestrado em ensino). Os quatro são exemplos de quem persiste nas escolas e reduz o número de alunos sem aulas.
Os diretores Filinto Lima, Manuel Pereira e António Castel-Branco garantem que “quase não há agrupamento no país sem não profissionalizados, professores deslocados e docentes com horas extraordinárias”. São as principais respostas das escolas à falta de professores.
Troca engenharia por dar aulas
Paulo Panda era engenheiro civil, em Angola, mas o interesse pela preservação do património levaram-no a tirar uma licenciatura em História, na Universidade Lusófona, em Lisboa. Gostou tanto que quando terminou decidiu antes experimentar dar aulas. E gostou “ainda mais”. Está colocado em Mem Martins, tem 11 turmas, mais de 200 alunos. “Se me continuar a dar bem e conseguir entrar no mestrado, já não mudo mais. Fico em Portugal”, diz.
Doutorada não queria ser docente
Andreia de Almeida mudou de vida aos 45 anos. A doutorada em História “nunca quis ser professora” mas cansou-se de esperar pelo “sonho” de ser investigadora. No ano passado, um “amigo disse-lhe: porque não tentas dar aulas?”. Foi colocada numa oferta de escola em Mem Martins e “adorou”. “A relação com os alunos é das experiências profissionais mais gratificantes que tive”. Este ano está na Amadora. Entrou no mestrado em ensino e pede ao Governo que facilite a profissionalização aos milhares que estão a garantir aulas. “Não é justo pedirem às pessoas que deixem de trabalhar, tendo de pagar propinas, para fazerem um estágio. Muitos podem desistir”, alerta.
Conseguir apoio é jogo de roleta
Jorge Oliveira entrou nos quadros no ano passado, através da vinculação dinâmica. Obrigado a concorrer para todo o país, este ano, foi parar a Portalegre. “Sabia os riscos e aceitei, o que não consigo perceber é como no final de agosto foram lançados 19 horários para o Porto”, diz ao JN. O professor de Biologia teve, no entanto, “a sorte” de ter sido colocado numa das escolas sinalizadas como “carenciadas”. Assim, tem direito ao apoio à deslocação de 450 euros, por estar a mais de 300 quilómetros de casa. O dinheiro “vai servir para ir mais vezes visitar a família”. O apoio, critica, “é uma roleta”. A lista de escolas pode mudar, os docentes nunca sabem antes de concorrer. “Se por acaso tivesse ficado na escola que fica mais perto do alojamento onde estou já não tinha direito ao apoio”.
Lutar por uma escola melhor
Aos 67 anos de idade e 47 de serviço, Isabel Aguiar adia a reforma desde o ano passado. A coordenadora da escola Cabo-Mor (Gaia), ainda se sente com força e incapaz de deixar os alunos. Este ano, vai aproveitar e pedir o suplemento criado pelo Governo, de 750 euros, para os que adiam a saída. Filha de professor e mão de professora, lamenta a desvalorização que a carreira sofreu nas últimas décadas e defende que o apoio à deslocação seja para todos os colocados longe de casa. “Tem de haver equidade”, considera. No dia de hoje, pede aos mais novos “que lutem por uma escola melhor”.