Há crianças do 1.º Ciclo que já pagam para andar em explicações, uma solução que ajuda as famílias a resolver mais manhãs ou tardes sem aulas quando faltam respostas acessíveis.
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As famílias que trabalham fora de casa e não têm como ocupar as horas que os filhos passam sem aulas dificilmente encontram vaga em centros de ocupação de tempos livres (ATL) ou de estudos nesta altura. Nas áreas urbanas de Lisboa e do Porto, há listas de espera, incluindo crianças desde o 1º Ciclo, cujas famílias acabam por contratar explicações para ocupar horas. A pandemia impôs horários desfasados nas escolas, que concentram aulas só de manhã ou de tarde, acabando por revelar "a enorme falta de soluções, em quantidade e qualidade", alertou Alberto Santos, da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap).
"Há mais procura, mas, como a pandemia condiciona a ocupação a 50%, acabamos por ter praticamente o mesmo número de crianças", explicou Ana Martins, uma das sócias do ATL Joana's, na Parede. A procura criou uma "lista de espera com cerca de 30 crianças". "Os horários desfasados aumentaram o negócio, uma vez que só trabalhávamos de tarde e, agora, tivemos de contratar mais pessoal para funcionar também durante as manhãs", revelou Ana. Aumentar preços não foi possível, "porque as famílias não aguentariam".
Ocupado desde junho
No Castêlo da Maia, o ATL Árvore do Conhecimento já "fechou as vagas em junho", pelo que a lista de espera vai crescendo. "Estamos a ter o melhor setembro de sempre, porque os horários e a mudança nos programas escolares levam as famílias a não conseguir acompanhar as crianças e a inscrevê-los para recuperar aprendizagens menos consolidadas no confinamento", revelou Ana Almeida. A responsável também optou por não subir preços, que vão dos 85€ para o 1.º Ciclo a 125€ do 3.º Ciclo.
Em Gondomar, não há vagas no ATL "De Mãos Dadas" desde que foram feitas as renovações das matrículas, em junho. "Temos lista de espera, a procura é superior à de outros anos, até porque somos IPSS e o pagamento é de acordo com os rendimentos das famílias", explicou a responsável, Patrícia Branquinho. Conforme os escalões e o ano, as crianças pagam entre 59,79€ e 82,25€.
Para assegurar progressão nas matérias e garantir vagas, muitos já começaram nas férias a frequentar os centros de explicações Da Vinci. A diretora-geral, Sandra Romão, rejeita que as explicações sejam "solução para as horas sem aulas", mas confirma o aumento da procura. "Em algumas unidades, temos listas de espera, por isso apelámos aos pais para se inscreverem em junho", adiantou.
A conta é pesada para as famílias, resumiu Alberto Santos. "O problema só não é mais grave, porque ainda há pais em teletrabalho. A pandemia acabou por expor um problema já antigo de falta de oferta, em qualidade e em quantidade", afirmou. "O ano escolar ainda está a começar, só nas próximas semanas teremos ideia do nível de dificuldade das famílias devido aos horários desfasados", alertou.
Rui Martins, da Confederação Nacional Independente de Pais, acredita que "o problema só se coloca nas maiores cidades, uma vez que, no resto do país, a família alargada consegue dar mais apoio e tudo se resolve melhor".
Preços
Primeiro ciclo
O valor pela frequência de ATL ou de duas horas semanais de explicações por disciplina está entre 50€ e 60€, sem alimentação ou transportes (35€ se o transporte for no mesmo concelho).
Segundo e terceiro ciclos
Os alunos do 5.º ao 9.º anos pagam entre 60€ e 70€, sem alimentação, para terem explicações ou frequentarem um ATL.
Secundário
Os preços podem atingir valores muito superiores, uma vez que correspondem geralmente a explicações mais complexas.