Aumento do preço dos vegetais leva mais pessoas a cultivarem legumes e frutos nas varandas de casa ou quintais de norte a sul do país.
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A subida do preço dos vegetais e frutos, devido à inflação, tem levado ao aumento da procura de sementes, garantem vendedores em hortos e casas de plantas ouvidos pelo JN. Cada vez mais gente aproveita varandas e terraços para fazer pequenas hortas e há quem "transforme jardins em quintais". A plantação em pequenos espaços ganhou popularidade no início da pandemia de covid-19 e tem crescido. Ervas aromáticas, alfaces e tomates são os produtos mais procurados.
Beatriz Oliveira começou a plantar legumes há um mês na varanda do prédio onde vive, em Arroios, Lisboa. As cenouras e cebolas ainda estão a crescer e só as poderá comer "daqui a três meses", mas acredita que a horta caseira vai ajudar nas contas ao final do mês. "Ainda não tive poupança, mas a longo prazo vai compensar. Os preços dos legumes são muito exagerados e um pacote traz cem sementes e são baratas", diz a jovem que quer ter "mais cinco vasos com legumes e frutas".
3,70 euros é o preço de um pack de 50 bolbos de cebolas para plantar em pequenos vasos. Um pack de 12 alfaces verdes ou roxas custa o mesmo. Já 12 tomateiros coração-de-boi valem 6,10.
Conceição Sobrinho, moradora na Penha de França, na mesma cidade, já planta hortícolas, fruta e ervas aromáticas há sete anos. "Gasto muito menos dinheiro com a terra e as sementes. A primeira colheita que fiz de batatas até me surpreendeu, foi mais de um quilo", conta. Rui Martins planta alfaces, cenouras, cebolas e morangos "por terapia e para ter mais vida na varanda". "Para conseguir ter uma produção considerável teria de ter dez vezes mais o espaço da minha varanda", diz o morador no Areeiro.
Pedro Pulido Valente, do Horto do Campo Grande, em Lisboa, diz que "o aumento da procura destes produtos verificou-se durante a pandemia, um nicho que permanece". "Aos fins de semana, as ervas aromáticas, coentros e salsa, são todas vendidas. Custam dez ou 15 cêntimos", conta. Patrícia Pedro, da Gigagarden, em Albufeira, confirma que "a venda de sementes de hortícolas e aromáticas tem aumentado muito". "As que saem mais são o tomate, pepino, abóbora, meloa, alface, feijão, cenoura, coentros e salsa."
Guerra fez diminuir oferta
Pedro Dias, da Sementeira Alípio Dias, no Porto, também sentiu "um maior consumo de plantas hortícolas na pandemia e, agora, com a subida dos preços dos alimentos". "Temos alguns clientes novos que procuram algo fácil de plantar, como alface e tomates cherry, e que não demore muito tempo a crescer", conta o comerciante, que diz ainda que "há falta de sementes porque a produção diminuiu com a guerra da Ucrânia, onde se produzia".
Na mesma cidade, Jorge Teixeira, do Viveiros de Plantas do Parque, sentiu o mesmo. "Vêm comprar muito plantas aromáticas e pezinhos de alfaces e tomates. As pessoas estão a plantar mais nas varandas. Dizem que está tudo muito caro", conta. Fábio Jácome, que vende produtos hortícolas em Viana do Castelo, partilha que "houve um aumento da procura de plantas para a varanda".
Ana Magalhães, vendedora de plantas em Penafiel, diz que "a procura (de hortícolas) aumentou o triplo e as cebolas já esgotaram". "Há pessoas a transformar jardins em quintais para plantarem cebolas, que estão muito caras."
Alface é dos legumes mais populares
As ervas aromáticas, alfaces e tomates são alguns dos alimentos mais fáceis de plantar nas varandas e mais procurados em alguns hortos por todo o país. Os próximos três meses do ano são os recomendados para plantar alfaces e cenouras, legumes que têm tido muita procura. As hortas comunitárias também têm ganho cada vez mais adeptos. Segundo o último inquérito sobre este tipo de espaços realizado em Portugal, pela associação Zero, em janeiro de 2017, 59 municípios tinham disponibilizado terrenos para os moradores poderem cultivar. Estima-se que estes números tenham aumentado, uma vez que a agricultura biológica tem vindo a crescer desde a pandemia.