São 9.45 horas de uma sexta-feira e poucos doentes se veem à entrada da Urgência do Hospital de Braga. Das 13 macas da sala dedicada aos doentes respiratórios, apenas três estão ocupadas. Ali, onde noutros tempos se aglomeravam centenas de pessoas, há uma aparente tranquilidade que esconde a pressão que a pandemia começa a trazer às enfermarias ou à Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes (UCIP). São já 85 doentes com covid-19 internados, 16 dos quais a lutar pela vida.
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O problema das urgências, muitas vezes, é a drenagem de doentes, fazer com que saiam desta área. Estamos a tentar que nenhum utente fique mais de 12 horas na Urgência. Temos esse foco e é bom para acelerar a decisão de internar, ter alta ou fazer um tratamento rápido", justifica o diretor do serviço, Jorge Teixeira, junto a uma das salas dedicadas a casos suspeitos. Entre os cerca de 400 utentes diários, 100 a 120 são doentes respiratórios, a maioria com sintomas leves.
Casos chocam
Mas há casos que chocam os profissionais. "Há doentes muito jovens, da idade dos nossos pais, sem patologias, que foram afetados e não sobreviveram", descreve Juliana Oliveira, 38 anos, médica internista com 12 anos de profissão e, agora, com o medo constante de "ficar doente".
Afeto à UCIP, o enfermeiro Hugo Sousa acrescenta que "o desgaste acumulado" começa, também, "a preocupar" os profissionais, mas há uma confiança no trabalho diário que era menos comum há oito meses. "Estamos mais organizados, a nível pessoal é mais fácil lidar com estas situações, temos mais conhecimento e estamos mais à vontade", diz.
Depois, há mais equipamentos. "Temos um fornecedor de oxigénio, em que enriquecemos a pessoa de oxigénio e pode respirar por ela própria. Não ventilamos logo alguns doentes, tentamos que se mantenham a respirar pelos próprios meios", explica o diretor da UCIP, Luís Lencastre. Só esta tecnologia permitiu aliviar "14 ou 15" camas dos Cuidados Intensivos que seriam ocupadas por doentes de média gravidade. "Na primeira vaga teriam que ser ventilados. Assim, com vigilância, podem estar em enfermarias", elucida.
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Com o plano de contingência no nível três, a UCIP pode absorver até 24 doentes. No nível seguinte, o máximo, podem chegar às 44 camas. A enfermaria conta já com 69 pessoas infetadas, cerca de 80% da capacidade. "É expectável que tenhamos de entrar no quarto nível", assume o diretor-clínico, Jorge Marques, lembrando que o Hospital de Braga tem recebido dezenas de utentes de outras unidades públicas. Por outro lado, tem recorrido ao setor social e ao privado para manter a atividade programada. "O hospital tem mais de 600 camas de enfermaria, não é possível ocupá-las todas com esses doentes [covid-19], mas pode haver progressão até 50% das camas", elucida.
No Serviço de Patologia Clínica já se antecipa um cenário negro. Depois de terem reforçado a equipa de duas para oito pessoas, apetrecharam o espaço com mais tecnologia. "Fazemos 350 a 400 testes diários, mas antecipando um aumento dos pedidos, adquirimos dois novos equipamentos e passamos a capacidade para mil testes diários", contabiliza o responsável, Aurélio Mesquita. Desde o início da pandemia, já foram 50 mil as zaragatoas que analisaram, para dar resposta aos serviços do hospital. "Estamos a sentir uma ameaça, um maior número de doentes, mas estamos preparados para isso", tranquiliza Jorge Marques.
400 - Número médio de utentes que acorrem, diariamente, à Urgência do Hospital de Braga. São menos de 200 que antes da pandemia. Diretor do serviço acredita que o "medo" justifica diminuição da afluência.
10% - Percentagem máxima de cancelamentos da atividade clínica programada do Hospital de Braga, para responder à covid-19. Unidade tem-se socorrido do setor privado e social para garantir maioria das cirurgias