A queda do avião anfíbio Fire Boss que anteontem causou a morte ao piloto André Rafael Serra, em Vila Nova de Foz Côa, foi o sexto acidente com aviões deste tipo em Portugal. A ocorrência está a ser investigada.
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O avião Fire Boss AT-802 que estava a ser pilotado por André Rafael Serra pertencia à empresa Agro-Montiar, de Tondela, que há muito aluga aviões ao Estado português para o combate aos fogos. Ontem, o dono da Agro-Montiar, Carlos Craveiro, que também é examinador da Autoridade Nacional de Aviação Civil, ainda estava em choque com o sucedido: "Não tenho capacidade para falar com ninguém neste momento".
Nos últimos 25 anos, de acordo com o portal Aviation Safety, que compila notícias sobre acidentes com aeronaves, houve 118 acidentes com aviões Fire Boss em todo o Mundo, desde 1997. No mesmo período, houve seis em Portugal.
O primeiro foi em São Pedro do Sul, em 2005, devido a falha mecânica. O piloto espanhol saiu ileso. Em 2009, no Fundão, nova falha mecânica voltaria a resultar num acidente em que saíram ilesos os dois tripulantes. Três anos depois, em Beja, houve nova queda de um Fire Boss, desta vez por falha do piloto espanhol, que também saiu ileso.
Em 2019, houve mais dois acidentes com estes aviões. Um foi em Tavira, sem vítimas e sem causas conhecidas. O outro foi na barragem de Castelo de Bode, na Sertã, envolvendo um Fire Boss da empresa Agro-Montiar. O relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) revelou que "a carga de trabalho do piloto nos dez minutos de voo entre a descolagem e o ponto de recolha de água não permitiram uma concentração completa nas tarefas essenciais de condução do voo" e, como tal, o piloto não reparou que "o trem de aterragem não foi recolhido", tendo-se partido no abastecimento.
O GPIAAF é também a entidade responsável pela investigação ao acidente que vitimou André Rafael Serra. O comandante nacional da Proteção Civil, André Fernandes, confirmou que "existe uma investigação em curso" e, como tal, ninguém avança com possíveis causas para o acidente.
Avião sem acidentes
Há, contudo, uma hipótese que parece afastada, que é a do piloto ter abastecido água em excesso. É que os aviões Fire Boss têm capacidade para cerca de 3000 litros de água e "têm um sistema que esvazia automaticamente o depósito até ao ponto ideal nos segundos após o abastecimento", disse ao JN o comandante operacional distrital da Guarda, António Fonseca.
André Serra pilotava a aeronave Fire Boss com a matrícula CS-EDY que não tinha registo de acidentes. O piloto combatia um incêndio em Torre de Moncorvo e tinha acabado de abastecer no rio Douro, em Vila Nova de Foz Côa, quando levantou voo e se despistou, caindo numa vinha. A aeronave explodiu e gerou-se um pequeno incêndio. Atrás seguia outro avião Fire Boss que se aproximou e efetuou uma descarga de água que apagou o incêndio.
O JN sabe que as autoridades já analisaram um vídeo em que se vê o momento em que o avião bate nos socalcos. Foi filmado por uma criança que estava no Museu do Côa.
Primeiras conclusões da perícia são conhecidas amanhã
O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), que está a conduzir a investigação ao acidente, informou ontem que as conclusões das primeiras perícias vão ser divulgadas amanhã. Em comunicado, o GPIAFF confirmou que iniciou os trabalhos e que vai "publicar no final da próxima segunda-feira, dia 18, uma nota informativa dando conta dos factos apurados, conforme confirmados até essa data, e dos passos seguintes da investigação". O mesmo gabinete revelou que foram analisados os destroços no local do acidente e que a aeronave vai ser transportada para o hangar de investigação situado no aeródromo de Viseu para realizar "os trabalhos de perícias técnicas através de testes e ensaios". Hoje, o Governo vai decidir se prolonga a situação de contingência devido ao risco de incêndio rural, o segundo nível de resposta previsto na lei que está em vigor há uma semana.
Autopsiado ontem
O corpo de André Serra foi retirado do local do acidente ontem de manhã e, durante a tarde, foi autopsiado. O piloto foi encontrado carbonizado, mas só a autópsia vai confirmar qual foi a causa da morte.
Marcelo no funeral
O funeral de André Serra ainda não tem data marcada. Ontem, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou que vai estar presente nas cerimónias fúnebres.