Cinco anos depois dos incêndios de Pedrógão Grande, despovoamento acentua-se e medo paira no ar. Meio milhão de euros investidos na limpeza das bermas das estradas, mas eucaliptos predominam.
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Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, os três concelhos mais afetados pelos incêndios de 17 de junho de 2017, perderam 1040 habitantes entre 2014 e 2021. Reduzido a 11 329 pessoas, o território está cada vez mais despovoado e a população mais envelhecida. Contudo, os mais velhos acabam por ser os guardiões das povoações, ao cultivarem hortas junto às casas. Mas o medo de uma nova tragédia paira no ar, devido ao estado de abandono de muitos terrenos e à proliferação desenfreada de eucaliptos.
Cinco anos depois de os incêndios terem causado 66 mortes e 253 feridos, e destruído cerca de meio milhar de casas e 50 empresas, os concelhos do norte do distrito de Leiria foram invadidos por eucaliptos, uma espécie altamente inflamável, mas mais rentável para os proprietários dos terrenos, pois cresce com maior rapidez. Mesmo nas faixas de gestão de combustível, onde não deviam existir árvores, nem qualquer outra vegetação, a 10 metros de distância das estradas, veem-se pequenos eucaliptos, que nascem espontaneamente por todo o lado.
Conscientes do risco de incêndio, os municípios têm tentado dizimar esta espécie, arrancando as raízes das árvores, e estão a limpar os 10 metros das faixas de gestão de combustível e junto a alguns aglomerados populacionais. Este ano, Pedrógão Grande reservou 130 mil euros para intervir em 156 hectares, Castanheira de Pera canalizou 170 mil euros para a limpeza de 170 hectares e Figueiró dos Vinhos investiu 200 mil euros em 180 hectares. Presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, Dina Duarte defende que cabe ao Governo reforçar políticas para atrair mais pessoas para o território e apoiar a criação de emprego. "Mais habitantes na região serão mais propriedades cuidadas e menos abandono", acredita. Lança, por isso, o desafio a todos os que não têm laços com os três concelhos para venderem as propriedades, para permitir que as vilas e aldeias se regenerem.
Dina Duarte considera ainda determinante haver mais habitação, criar novas formas de emprego à distância, e aumentar a oferta de transportes públicos. Alguns deste problemas são identificados pelos municípios. Em Pedrógão, a existência de "zonas sombra" ao nível das telecomunicações, dificulta a atração de nómadas digitais. Apesar disso, há mais estrangeiros a recuperar casas antigas.
Falta de oferta
Em Castanheira, o facto de não haver Ensino Secundário e de existir apenas um expresso para Lisboa por dia, sem que exista oferta para Coimbra, onde se situam os hospitais mais próximos, também afeta a atratividade do concelho. Além disso, a recuperação do parque industrial do Safrujo não sai do papel.
O principal fator de atração é a praia das Rocas (complexo de lazer com piscina de ondas), embora existam outros pontos de interesse turístico nos três concelhos, como praias fluviais, barragens, passadiços, aldeias de xisto e de granito. Apesar de todos os municípios ofereceram incentivos à fixação de empresas, apenas Figueiró dos Vinhos tem uma zona industrial recente a funcionar.
Dois julgamentos
Ex-autarcas condenados a penas de prisão
Destinado a apurar se houve favorecimento na reconstrução das casas ardidas, o primeiro processo em tribunal resultou na condenação de Valdemar Alves, antigo presidente da Câmara de Pedrógão Grande, a sete anos prisão, e de Bruno Gomes, ex-vereador, a seis anos de prisão. Ambos recorreram da sentença. O acórdão do processo destinado a determinar quem foram os responsáveis pelas mortes e feridos vai ser conhecido em setembro.