População residente em Portugal cresce, apesar de descida na natalidade.
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A entrada de imigrantes permanentes (67 160), para residir por um período igual ou superior a um ano em Portugal, permitiu um saldo migratório positivo, no ano passado. É o quarto ano consecutivo em que o número dos que entram no país é superior aos que emigram (25 886). As estatísticas demográficas do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 2020, mostram ainda que os estrangeiros compensaram o saldo natural negativo e ajudaram no crescimento da população residente (0,02%).
Sem os imigrantes, seria difícil ter uma taxa de crescimento efetivo positiva em Portugal, uma vez que o número de nados-vivos desceu e o de óbitos aumentou no ano passado. Nasceram 84 426 bebés (menos 2,5%) e morreram 123 358 pessoas (mais 10,3%) em 2020.
Para o geógrafo Paulo Nossa, "os dados não são surpreendentes". "A consolidação do envelhecimento, com índices de fecundidade baixos, vai manter-se, mesmo na Europa", explica. Os números divulgados ontem registam o aumento da idade média das mulheres ao nascimento dos filhos: de 29,9 anos em 2019 para 30,2 anos em 2020, relativamente ao primeiro filho.
A pandemia veio alterar o cenário demográfico, uma situação que se espera "transitória", afirma o também professor da Universidade de Coimbra, nomeadamente no que toca ao aumento da mortalidade. "Numa primeira leitura, pode estar relacionado com a covid-19, que afetou os mais velhos. Mas não excluiria as outras doenças, como acidentes vasculares cerebrais ou os atrasos na deteção de neoplasias", diz.
Da totalidade de óbitos de residentes em Portugal, 43,1% verificaram-se em pessoas com idade igual ou superior a 85 anos. O INE precisa que a "esperança de vida à nascença para o total da população, no triénio 2018-2020, foi estimada em 81,06 anos".
Ter filhos em Portugal
A descida da taxa bruta da natalidade, de 8,4% para 8,2% em 2020, pode não ter sido mais drástica devido à entrada de estrangeiros, isto é, de casais jovens que constituíram família no país. "A população migrante mantém hábitos culturais e expectativas de vida muito marcadas pelos países de origem, onde o papel da mulher é um bocadinho diferente: mais matriarcal e orientado para cumprir uma função reprodutiva", acrescenta.
Contudo, o geógrafo diz ser preciso promover incentivos à demografia, que terão de começar por mudanças no mercado de trabalho. "Temos de resolver a excessiva precariedade em que o país está viciado", diz, referindo-se aos mais jovens. A taxa de fecundidade teve uma descida acentuada em mulheres nas faixas etárias entre os 20 aos 24 anos e os 30 aos 34 anos.
Casais
Menos de 20 mil casamentos celebrados
No primeiro ano da pandemia, foram celebrados 18 902 casamentos em Portugal. São menos 43,2% relativamente a 2019. Do total de matrimónios, 445 foram entre pessoas do mesmo sexo (236 entre homens e 209 entre mulheres). Em cerca de 6% dos casamentos realizados em Portugal, os cônjuges "declararam que a sua residência futura seria no estrangeiro", detalha o INE. Já a idade média do primeiro casamento tem aumentado nas últimas décadas: 34,9 anos nos homens e 33,4 anos nas mulheres. Os divórcios também desceram, foram 17 295 em 2020, o que representa uma redução de 15,3%.