População da Área Metropolitana do Porto aumentou em 30 anos mas agora está a cair
Tendência de subida demográfica na região desde 1991 inverteu-se a partir de 2011.
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O diagnóstico é claro: sem alterações em setores como os da habitação, turismo e mobilidade, a Área Metropolitana do Porto (AMP) continuará a perder população. João Teixeira Lopes, sociólogo, culpa principalmente a pressão imobiliária "desigual" e os movimentos pendulares "intensíssimos" e difíceis entre os concelhos para a quebra de população sentida na região nos últimos dez anos. O cenário é "um pouco preocupante", diz o geógrafo Rio Fernandes notando, por sua vez, a eventual "incapacidade" de a AMP captar talento, levando os jovens a emigrar.
Segundo os Censos 2021, deixaram de viver na região, nos últimos dez anos, 23 296 pessoas, contrariando o aumento que se vinha a registar desde 1991. A partir desse ano, e até 2011, a região conquistou mais 163.762 pessoas. Desde então, a situação inverteu-se.
"Pode estagnar"
É no Porto onde se regista a maior queda. Nos últimos 30 anos, a cidade perdeu mais de 70 mil residentes. Entre 2011 e 2021 contam-se menos 5791 a viver na cidade, apesar de essa tendência ter começado a ser contrariada a partir de 2018, com a população a aumentar. Mas contam-se pelos dedos da mão os concelhos que viram a sua população a subir em 2021 face a 2011: Póvoa de Varzim, São João da Madeira, Valongo, Vila do Conde e Gaia. Esta variação não é, no entanto, suficiente para compensar a diminuição de população nos outros concelhos. E, acrescenta Rio Fernandes, "nada aponta no sentido de a população aumentar". Pode, isso sim, "estagnar".
Contudo, há municípios que, face a 1991, registam um crescimento exponencial. É o caso da Maia, com um aumento de 44,9% em três décadas. Mas se falarmos em números absolutos, Gaia sobe ao topo da tabela, tendo conquistado 55 259 residentes em 30 anos.
Certo é que, para acompanhar esse crescimento, alerta o sociólogo João Teixeira Lopes, "é fundamental que não se pense só nos transportes para o Porto, mas também na rede de transportes dentro dos próprios concelhos" que, de acordo com o sociólogo, é "muito má".
Natalidade baixa
Um fenómeno curioso, e realçado por Rio Fernandes, é o facto de Gaia, atualmente, ter tantos residentes como o Porto tinha em 1991. Para o geógrafo, além da pressão imobiliária no caso do concelho do Porto, outro fator que contribui para o decréscimo de população da AMP estará relacionado com o "comportamento demográfico": a taxa de natalidade. "Há mais gente a morrer do que a nascer", refere. Pela insegurança sentida no emprego, os jovens "casam mais tarde, têm menos filhos".
A aposta terá também por passar pela habitação, garante o sociólogo João Teixeira Lopes: "Temos, no Porto cada vez mais imigrantes, o que aumenta também a pressão sobre a habitação e não há mercado de arrendamento suficiente. Muitas das casas estão ocupadas por Airbnb e hotéis, outras estão fechadas para serem objeto de especulação, recuperadas e vendidas. Tudo isto é uma pressão imensa sobre o imobiliário, que torna incomportável viver no concelho do Porto e mesmo, eu diria, na AMP".