Imigrantes manifestaram-se à porta da AIMA: “Não somos criminosos, queremos trabalhar”
A manifestação decorreu na manhã desta quarta-feira e ouviram-se cânticos. Os manifestantes destacam a demora na resposta por parte da AIMA, com atrasos de dois anos na renovação de cartões de residência e “violações de direitos humanos”.
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Dezenas de imigrantes manifestaram-se à porta da Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA), na Boavista, no Porto, na manhã de quarta-feira. Os manifestantes gritaram cânticos como “Não somos criminosos, queremos trabalhar” e pediam uma resposta mais rápida da agência AIMA para a legalização de imigrantes, com casos de atrasos de dois anos em renovações de cartões de residência, destacando as “violações de direitos humanos”.
Karin Pimenta Abrahim, imigrante brasileira e representante da Associação dos Imigrantes e Trabalhadores por Aplicação (ASITRAP), explicou que a manifestação aconteceu para que “a AIMA dê prioridade e atenda logo, porque a vida destas pessoas fica suspensa”, explica. “Pagamos imposto, para nos legalizar”, continua Karin, “queremos direitos iguais, porque sem cartão de residência, ficamos sem entendimento no SNS, e há mulheres e filhos de todos nós que precisam de tratamento”.
A representante da ASITRAP critica também a obrigatoriedade de contratos de trabalho para imigrantes, “até para pedir o NIB na Segurança Social, pedem para que tenhamos um contrato, e somos vulneráveis porque a maioria dos empresários portugueses não dá contratos a termo, dão ‘contratos de gaveta ‘, sobretudo para pessoas que trabalham em aplicativos e na restauração”.
Karin destaca que “Portugal precisa de imigração, precisa de legalizar, mas o prazo demora muito”. A brasileira e outro colega da mesma associação estão com dificuldades em renovar o cartão de residência. “Fiz a renovação online do cartão de residência, em julho de 2023, faz dois anos e nada”, conta o imigrante brasileiro, que está em Portugal há cinco anos e trabalha na construção civil. “A AIMA diz que está na Casa da Moeda, outra vez diz que está em processamento, e aí estão dois anos”, explica, “o meu cartão é válido até 30 de julho, depois desse período já não vale mais nada”, garante.
Na manifestação encontrava-se, igualmente, Dharmjit Singh Saini, diretor de uma empresa de consultadoria para a imigração, a Crown. O diretor de origem indiana destaca que “muitos imigrantes estão a sofrer”, “estão integrados em Portugal há muito tempo, trabalham 2, 3 anos, pagam as contribuições, e no fim do dia não são regularizados, não têm cartão de residência, não têm direito ao acesso à saúde ou carta de condução”.
Dharmjit explica que a maioria “trabalham em quintas ou em outros empregos duros, em trabalhos que os portugueses não querem fazer, a receber pouco, longe das suas famílias durante muito tempo”. O imigrante acrescenta que “cerca 10 000 pessoas sofrem com estes problemas”, estima, e que “brasileiros e outras pessoas com origem em países de língua portuguesa têm cartão de residência, mas esta comunidade [asiática] não tem. Porquê? Por causa de discriminação”, elabora.
A manifestação foi invadida por um grupo de extrema-direita, de três elementos, a proferir ameaças e insultos, o que levou à intervenção da PSP. Um dos invasores era Afonso Gonçalves, presidente do grupo ultranacionalista, “Reconquista".