Especialistas dizem que variante delta veio baralhar as previsões e insistem na vacinação para proteger os mais novos contra a covid-19.
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Não há um "número mágico" para se atingir a imunidade de grupo contra a covid-19. A convicção da Organização Mundial de Saúde (OMS), dado o surgimento de novas variantes, é partilhada por imunologistas portugueses, que alertam ser necessário vacinar o máximo de pessoas possível para proteger toda a população.
A variante delta do novo coronavírus veio baralhar as contas. As metas para se alcançar a imunidade de grupo são constantemente revistas e perante a nova variante, com um grau de transmissibilidade mais elevado, há dados que apontam para a necessidade de vacinar 90% a 95% da população.
"Perante a informação que temos até agora, não há uma resposta definitiva. Até a variante delta aparecer, era expectável atingir-se a imunidade de grupo porque a vacina parecia diminuir a quantidade de infeções e a infecciosidade das pessoas vacinadas. Com a variante delta, há estudos que dizem que a carga viral é semelhante nos vacinados e nos não vacinados", explica Luís Araújo, docente de Imunologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Também para a imunologista Margarida Saraiva, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde I3S, "é muito difícil" obter-se o número mágico, porque "o cálculo baseia-se numa série de premissas", como a transmissibilidade. "Por isso, no caso do SARS-CoV-2, podemos não conseguir alcançar a imunidade de grupo", aponta.
Proteger as crianças
A vacina é eficaz contra a doença grave e a mortalidade, o que já é visível nos atuais números de internamentos e mortes por covid-19, sublinham os dois especialistas. "Queremos o máximo de cobertura vacinal possível, para sairmos de uma situação pandémica para uma endémica e assim conseguirmos uma maior proteção possível da população e proteger quem não pode ser vacinado, como as crianças", frisa Margarida Saraiva.
"Mesmo que não se obtenha uma imunidade de grupo suficiente para extinguir o vírus, sabemos que vamos ter uma doença cada vez menos grave dada a imunidade garantida pela vacinação ou infeção", acrescenta Luís Araújo.
Ainda na quinta-feira, em entrevista à SIC, o coordenador da "task force" portuguesa para a vacinação reiterou que, com a variante delta dominante na sociedade portuguesa, é fundamental vacinar o máximo de pessoas, pois a imunidade de grupo só será atingida se mais de 85% estiverem imunizadas. No mesmo dia o vice-almirante Gouveia e Melo, referiu querer vacinar 85% a 90% da população portuguesa para assegurar o mínimo de imunidade de grupo.
Saber mais
O que é a imunidade?
Alcança-se quando uma grande maioria da população está protegida contra um agente infeccioso, geralmente através da vacinação, reduzindo o risco das pessoas que não estão, incluindo as que não podem ser vacinadas ou nas quais a vacina não surtiu efeito.
Efeito delta
A variante delta do coronavírus SARS-CoV-2, dominante em vários países, incluindo Portugal, é apontada, num relatório do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), como sendo mais contagiosa que os vírus que causam a gripe sazonal e a varíola.
Vacinados passam
As pessoas vacinadas e infetadas com a delta podem transmitir o vírus com a mesma facilidade e rapidez que as pessoas não vacinadas, diz um estudo do CDC.
Números
62% da população portuguesa tem a vacinação completa contra a covid-19 e 71% pelo menos uma dose.
95% de vacinados é o necessário para imunizar a população contra o vírus da varíola, altamente transmissível.