Incêndios baixaram após sensores instalados no Alto Minho mas há quem não goste
Mais de quatro mil foram instalados há dois anos nas aldeias do Alto Minho para evitar tragédias. Fogos diminuíram mas vários foram retirados por "apitarem muito".
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A Comissão Distrital de Proteção Civil de Viana do Castelo distribuiu, nos últimos dois anos, cerca de 4200 sensores de fumo pela população do Alto Minho. Os dispositivos funcionam como alarme em caso de incêndio, detetando fumo no interior das habitações, e foram colocados para servir especialmente a população idosa que vive nas aldeias mais isoladas. Mas, conforme constatou o JN, há muitos que os desligaram por dispararem constantemente, com o barulho a ser ouvido dentro e fora de casa.
O projeto, financiado por fundos comunitários, começou a ser concretizado em dezembro de 2020. Foram repartidos detetores de incêndios domésticos pelos 10 municípios do Alto Minho e a entrega à população ficou a cargo das autarquias.
Segundo o Comandante Operacional Distrital de Viana do Castelo, Marco Domingues, não é possível medir o impacto destes sensores na prevenção de incêndios habitacionais, mas o número de ocorrências diminui há cinco anos. Em 2022 registaram-se menos 70 do que em 2019.
"Não conseguimos estabelecer uma relação direta, mas o número de incêndios baixou. Poderá estar mais associado à autoproteção, nomeadamente com cuidados adicionais no manuseio do fogo no interior das habitações", admitiu ao JN. Marco lembra que o aparelho "só funciona se o incêndio acontecer, ou seja, não impede que ele aconteça". "A função do sensor é detetar os incêndios, o excesso de concentração de fumo, particularmente quando as pessoas estão a descansar durante a noite, evitando tragédias", frisou.
Por isso, aconselha a colocar o aparelho, por exemplo, num corredor, "onde não há fumo e quando este lá chega é porque há um incêndio, e não numa cozinha com lareira, onde ele vai disparar sempre devido ao fumo".
"Já vais ver o pi, pi, pi..."
Em Ponte de Lima, onde em 2021 foram distribuídos 750 detetores de fogo, o JN bateu à porta de alguns dos habitantes da freguesia de Correlhã. Maria da Graça e as suas vizinhas, as irmãs Conceição e Glória Rodrigues, já os retiraram do teto das suas casas.
"O alarme saiu porque estava sempre a apitar", ri Maria, de 75 anos, lembrando um domingo em que a filha e o genro foram comer lá a casa e o alarme começou a apitar. "O meu genro queixou-se do barulho e perguntou se queria que ele o tirasse. E tirou".
As vizinhas nem querem ouvir falar do sensor. "Este ano com tanta chuva e vento, era só fumo [dentro de casa], em vez de ir para fora da chaminé, vinha para baixo e [o alarme] não se calava. Estava sempre pi, pi, pi. E nós, ai é? Anda cá que já vais ver o "pi". Não estávamos para aturar aquilo", conta Conceição, notando que também o do vizinho "Nelinho" deixou de tocar. "Alguma coisa se passou...".
A irmã Glória não acha graça ao sensor de fumo que lhe podia valer em caso de incêndio. "Fazia jeito o quê? Não diga isso menina. Aquilo estava sempre pi, pi, pi...", resmunga.
Registos
4225 sensores de fumo
Foram entregues, desde 2020, aos municípios de Arcos de Valdevez (394), Caminha (288), Melgaço (159), Monção (332), Paredes de Coura (159), Ponte da Barca (208), Valença (244), Viana do Castelo (1531), Vila Nova de Cerveira (160) e Ponte de Lima (750).
Menos ocorrências
Nos últimos cinco anos, no Alto Minho, foram registados 711 incêndios habitacionais. Em 2018 ocorreram 164, no ano seguinte 175, em 2020 foram 137, 130 em 2021 e 105 em 2022. O concelho de Viana do Castelo lidera (202 casos), seguindo-se Ponte de Lima (111) e Arcos de Valdevez (89).