O Instituto Nacional de Estatística lança, ainda este mês, o inquérito sobre a violência doméstica e a violência de género. A iniciativa-piloto integra um projeto europeu, tendo já sido realizado na maioria dos estados-membros da União Europeia. O inquérito sobre as origens étnico-racial obteve mais de 2400 respostas.
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O Inquérito sobre Segurança no Espaço Público e Privado do INE, que lida com violência de género e violência doméstica, vai para a rua ainda este mês. Já o projeto-piloto que procura conhecer as condições de vida, origens e trajetórias da população residente, onde é abordada a origem étnico-racial, obteve mais de 2400 respostas. Os resultados, recolhidos entre outubro de 2021 e janeiro deste ano, estão a ser analisados e prevê-se que o inquérito final arranque em dezembro. No último trimestre deste ano, será divulgado o que é o inquérito e o documento metodológico, começando a fase de recolha no terreno nessa altura e durante os três meses seguintes.
Este inquérito surge depois do INE ter decidido não incluir no Censos 2021 uma pergunta sobre a origem étnico-racial dos cidadãos, como pretendia a maioria dos membros do grupo de trabalho, criado em 2019 pelo Governo para avaliar a questão. De acordo com o presidente daquele instituto, Francisco Gonçalves de Lima, a análise dos resultados servirá para definir o que "fazer na operação principal, que se deve iniciar no último trimestre [de 2022], provavelmente em dezembro".
"Taxa de resposta elevadíssima"
A amostra definida foi de 3400 pessoas e responderam "mais de 2.400", o que é "uma taxa de resposta elevadíssima", apontou o responsável, em declarações à Agência Lusa. As pessoas inquiridas tinham entre 18 e 74 anos, residem há 12 meses em Portugal ou planeiam residir mais um ano, definição usada "para todos os inquéritos", e o inquérito abrange até três gerações. A unidade amostral foi a do alojamento. Apenas responde uma pessoa por agregado, caso haja mais do que uma pessoa elegível para responder, e o critério para seleção é a pessoa que faz anos mais tarde.
O inquérito-piloto decorreu "em zonas inseridas nos municípios de Cascais, Lisboa, Loures, Sintra, Amadora, Odivelas e Seixal", especificamente na União das freguesias de Cascais e Estoril, Alvalade, Avenidas Novas, União das freguesias de Camarate, Unhos e Apelação, União das freguesias de Agualva e Mira-Sintra, Águas Livres, União das freguesias de Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto e Amora.
"Decidimos escolher alojamentos nestas regiões, porque sabemos que, nessas localidades, iremos encontrar grupos que nos interessa saber como é que eles respondem ao inquérito", afirmou o presidente do INE. O processo passou por selecionar zonas, municípios e, depois, freguesias, razão pela qual a ação foi concentrada na Área Metropolitana de Lisboa, onde estavam os bairros que interessavam inquirir.
O responsável adiantou que foram apresentadas questões sobre as origens étnicas, como a ascendência (o entrevistado responde sobre si, os pais e os avós), mas foi também perguntado como é que a pessoa se vê em termos de origem. "Essa pergunta era uma daquelas que nós queríamos testar para ver a adesão e os resultados foram melhores do que o que estávamos à espera. A taxa de resposta está acima dos 70%, o que para um inquérito desta natureza é bastante bom", frisou o responsável.
"Já será um passo para algo que não havia em Portugal e isso será muito interessante", destacou. Agora, será necessário "afinar" algumas perguntas para a fase de inquérito generalizado. Os microdados ficarão disponíveis para a comunidade científica, e além da primeira camada, há outras camadas de análise que podem ser retiradas "para definir políticas antidiscriminação ou, existindo evidencias de racismo, ir ver onde é que ele se manifesta, em que situações, com que tipo de pessoas", apontou.
Violência de género e doméstica sob análise
O INE vai lançar, ainda este mês, um outro inquérito, desta feita sobre a segurança no espaço público e privado, sobre a violência de género e a violência doméstica. Francisco Lima explica que os entrevistadores foram formados com a ajuda da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e a fase de recolha começa até ao final de junho.
Este inquérito sobre vitimação é parte de um projeto do Eurostat para disponibilizar estatísticas comparáveis sobre violência doméstica e de género e os resultados deverão estar disponíveis até ao final deste ano. Incidirá sobre experiências de assédio sexual no trabalho, violência física, sexual, psicológica e económica, bem como violência na infância, para "conhecer melhor a dimensão do fenómeno da violência doméstica e de género, assim como as suas características", nomeadamente episódios de violência, vítimas e agressores.