A inflação de setembro, que de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) atingiu os 9,3%, está a "roubar" 66 euros a quem ganha o salário mínimo em Portugal continental e quase 26 euros aos pensionistas. O país, que já vira as dificuldades dos mais carenciados agravarem-se durante os dois anos de pandemia de covid-19, está a braços com a inflação mais elevada desde 1992.
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Os dados constam da informação estatística, disponibilizada pela Pordata, para assinalar, esta segunda-feira, o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. A Fundação Francisco Manuel dos Santos faz as contas e demonstra como a pobreza está a aumentar no nosso país.
Com a inflação registada em setembro, "quem recebe o salário mínimo de 705 euros vê, na prática, o seu poder de compra reduzido para 639 euros. Quem recebe uma pensão mínima de velhice e de invalidez, vê o seu poder de compra descer para 252 euros". Depois de um longo período de inflação baixa, esta taxa disparou ao longo do ano de 2022 . "Temos de recuar a 1992 para encontrar uma variação semelhante nos preços", alerta, ainda, a fundação. Nesse ano, a inflação foi de 9,6%.
Recuando ao final da década de 70, constata-se que, entre 1978 e 2021, o aumento da inflação superou o aumento no salário mínimo nacional em 16 anos e as pensões de velhice e invalidez em 14 anos ao longo do referido período.
"Depois de dois anos em que a pandemia de covid-19 teve um forte impacto negativo nas economias mundiais, a Europa enfrenta, agora, uma guerra no seu território, o que veio agravar a tendência inflacionária que já se vinha registando e ameaçar o abastecimento de energia", reflete, também, a fundação, sublinhando que "Portugal já vinha registando uma tendência preocupante no que diz respeito ao aumento da pobreza". Neste momento, está a ser afetado pela conjuntura internacional, "que não apenas dificulta a melhoria desta situação, como também a agrava".
Há 2,3 milhões em risco de pobreza
Em 2020, primeiro ano da pandemia, o número de pessoas em Portugal em risco de pobreza ou exclusão social "aumentou 12,5%, algo que não acontecia desde 2014". Havia 2,3 milhões de pessoas no país nessa situação.
Na comparação com outros países da União Europeia (UE), Portugal piorou em três indicadores-chave: passou para 8.º lugar quanto à população em risco de pobreza ou exclusão social (em 2019, estava em 13.º), subiu da 12.ª para a 10.ª posição quanto à taxa de risco de pobreza após transferências sociais e de 10.º para 8.º lugar na desigualdade na distribuição do rendimento.
São mais afetadas as famílias com filhos, os maiores de 65 anos e os desempregados.
Saber Mais
Frio em casa
Portugal foi o 5.º país da União Europeia (UE) com mais população incapaz de aquecer convenientemente a habitação (16%) em 2021. Em 2020, foi o 2.º país europeu com mais pessoas a viver em casas com más condições (25%).
Alimentação
Em 2021, Portugal ficou em 2.º lugar na lista de países da UE em que mais pessoas pobres conseguem assegurar uma refeição de carne, peixe de dois em dois dias (6% não conseguem fazê-lo).
Mais RSI
Em 2021, 262 mil pessoas receberam o Rendimento Social de Inserção (RSI), um aumento de 1,6% face a 2020, contrariando a tendência decrescente que vinha de 2012: 41% têm menos de 25 anos.