"São roubos para comer". Supermercados colocam alarmes em latas de atum e congelados
Agravamento do custo de vida fez disparar furto de alimentos nas superfícies comerciais. Leite, salsichas e latas de atum estão entre os produtos mais roubados.
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Há supermercados portugueses a colocar alarmes em produtos alimentares básicos como latas de atum, garrafas de azeite e produtos congelados, entre os quais bacalhau e salmão, avança a edição desta sexta-feira do jornal Expresso.
A medida é justificada pelo aumento de furtos de alimentos, sobretudo nos últimos meses, com o aumento dos preços e do custo de vida. "É um fenómeno que está efetivamente a subir bastante, sobretudo desde o início de setembro e em particular nos grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto", adiantou o presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, revelando que o leite e os enlatados são os produtos mais roubados.
"Não há nenhuma dúvida que são roubos para comer. É o primeiro sintoma de uma grave crise social", lamentou. Um cenário confirmado, ao mesmo jornal, pelo presidente da Associação Nacional de Vigilância e Segurança Privada, Cláudio Ferreira. "Nos últimos dois a três meses nota-se um aumento muito significativo dos furtos de alimentos por parte de pessoas que já não conseguem sobreviver com o seu salário ou pensão. Estão desesperadas e escondem na mala ou no casaco pacotes de leite ou latas de atum para comer ou dar aos filhos."
Só no primeiro semestre do ano foram comunicados à polícia 452 furtos, mas muitas das situações não são reportadas às autoridades. "São casos de necessidade que dão muita pena. E quando assim é, não costumamos chamar a polícia", contou Edson Alves, que trabalha como segurança num supermercado da Areosa, no Porto. O vigilante tem assistido a vários casos, nomeadamente de idosos que tentam esconder comida na roupa e em malas. "Há pouco tempo vi um idoso a tentar roubar batatas e uma senhora de idade a esconder pastéis de bacalhau no bolso. Quando a abordei, pediu muita desculpa e explicou que tinha fome. E há mulheres com filhos que dizem que já não têm como lhes dar de comer. É muito triste", referiu.
Ainda que fonte oficial do Auchan tenha garantido não haver um aumento de furtos, associando a instalação de alarmes a uma medida "preventiva", dois funcionários de um supermercado desta cadeia, em Lisboa, contrariam a versão. "Estamos a colocar alarmes nas latas de atum, nas garrafas de azeite e no bacalhau porque ultimamente têm sido muito roubados. Há quem os leve em mochilas para depois os vender a preço mais baixo no mercado negro", contaram.