Diogo Ayres de Campos, coordenador do grupo de trabalho que elaborou a polémica orientação sobre os cuidados de saúde no trabalho de parto, reagiu, em declarações ao JN, à carta do bastonário da Ordem dos Médicos, que lhe retira a confiança institucional. E diz-se disponível para deixar as funções no grupo.
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"Há muitos interesses políticos e pessoais por trás disto, de pessoas que não estão interessadas nas melhores práticas, que estão a sobrepôr-se aos interesses das grávidas", afirmou o médico que coordenou a Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e bloco de partos.
O obstetra, que na semana passada foi exonerado das funções de diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, por questionar o projeto de reestruturação da maternidade do Hospital de Santa Maria, não especificou os interesses políticos a que se refere, nem quis alongar-se sobre o momento em que a carta do bastonário da Ordem dos Médicos foi conhecida publicamente.
O ofício de Carlos Cortes, datado de 19 de junho, foi enviado esta terça-feira para a Diretora- Geral da Saúde, com conhecimento do ministro da Saúde. Na carta, o bastonário retira a confiança institucional a Diogo Ayres de Campos, acusando-o de ignorar os contributos e objeções dos elementos sugeridos pela Ordem dos Médicos para a orientação sobre cuidados de saúde durante o parto.
A orientação em causa atribui mais competências aos enfermeiros especialistas nos partos, nomeadamente no processo de internamento, e determina que aqueles profissionais passam a ser responsáveis pelos partos de baixo risco.
Contributos "foram incorporados no documento"
O médico obstetra lembra que o objetivo deste grupo de trabalho foi tentar aproximar posições e conseguir consensos das várias instituições representadas no grupo de trabalho sobre os cuidados de saúde que devem ser prestados durante o trabalho de parto, com vista à qualidade e segurança clínica da mulher e da criança.
Em declarações ao JN, Diogo Ayres de Campos considera não fazer sentido a Ordem dos Médicos retirar-lhe confiança institucional porque, no âmbito da referida orientação, está a representar a Direção-Geral da Saúde (DGS) e, portanto, esta é que poderia retirar-lhe tal confiança.
O médico refuta as acusações do bastonário da Ordem dos Médicos, alegando que "não é verdade que os contributos não tenham sido acolhidos" - "foram incorporados no documento" - e lembra que, na última reunião, os presentes manifestaram que estavam de acordo com a versão final do documento.
"O que aconteceu foi que houve um entendimento de que a versão final seria enviada para aprovação da Ordem dos Médicos, mas a DGS entendeu que as orientações, ao contrário das normas, não têm de ser aprovadas pela Ordem".
Diogo Ayres de Campos esclarece ainda que o elemento indicado pela Ordem dos Médicos em representação do Colégio de Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, Jorge Lima, manifestou num email dirigido ao grupo de trabalho a 30 de dezembro de 2022 indisponibilidade para participar nas reuniões por motivos pessoais, sugerindo que, para não atrasar os trabalhos, estas ocorressem sem a sua presença.
Na carta da Ordem dos Médicos lê-se que os contributos e objeções daquele representante e de outros dois - Daniel Virella Gomes, do colégio da subespecialidade de Neonatologia, e Joana Mourão, do Colégio de Especialidade de Anestesiologia, "foram absolutamente ignorados, o que igualmente se verificou quanto às posições dos elementos sugeridos pelo Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, Maria do Céu Almeida e Cristina Guerreiro".
Disponível para sair
O médico obstetra lembra que o objetivo deste grupo de trabalho foi tentar aproximar posições e conseguir consensos das várias instituições representadas no grupo de trabalho sobre os cuidados de saúde que devem ser prestados durante o trabalho de parto, com vista à qualidade e segurança clínica da mulher e da criança.
Nesse sentido, e embora a DGS ainda não se tenha pronunciado sobre a carta da Ordem dos Médicos, Diogo Ayres de Campos diz-se disponível para sair do grupo, se "essa exclusão for necessária para a aprovação de uma orientação tão importante para as grávidas".