Governo diz que já foram mais de 17 mil utentes para cuidados continuados desde março.
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Os hospitais registam um aumento de pedidos de ajuda pelos utentes, sobretudo idosos, e deparam-se com a diminuição de respostas sociais para garantir o acompanhamento após alta hospitalar. Essa limitação leva a novas hospitalizações e à ocupação de camas hospitalares para além do período que seria necessário por causa das regras de entrada nos lares, fazendo com que permaneçam internados sem sintomas durante dez dias.
O Governo garante ao JN que têm sido adotadas "medidas extraordinárias" para a libertação de camas nos hospitais, assim como foi criado um apoio específico para a conversão de centros de dia em serviços de apoio domiciliário.
"Dos 464 novos lugares no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados [RNCCI] previstos para 2020, foram ainda aumentados 107 lugares na rede geral, que, acrescidos a 200 na área dos cuidados continuados integrados de saúde mental, perfaz um total de 771 lugares", regista o Ministério do Trabalho e Segurança Social, em resposta ao JN.
A tutela calcula que, desde março passado, "houve um total de 17 538 doentes colocados na RNCCI e de 1660 utentes admitidos em resposta social". A maioria das solicitações ocorre nos distritos de Lisboa e do Porto.
Na Guarda, o hospital queixa-se do encerramento dos centros de dia, da diminuição do apoio domiciliário e das restrições na entrada de utentes nas estruturas residenciais para idosos, o que tem consequências na capacidade de admissões da unidade. Em simultâneo, o hospital registou um aumento dos pedidos de ajuda nos serviços hospitalares e chega a emprestar cadeiras de rodas e camas articuladas a doentes com alta hospitalar para o domicílio.
No Hospital Amadora Sintra, houve um aumento de 443 pedidos de ajuda nos últimos dois meses de 2020 face a igual período de 2019. Na maioria, as solicitações são de idosos e visam, sobretudo, a integração em lares (com acordo público e com mensalidades mais baixas), "dado o facto do próprio e da família não terem meios para custear lar privado", concretiza fonte oficial do Hospital Fernando Fonseca.
Alternativas onerosas
Àquela unidade hospitalar também têm chegado pedidos de ajuda para a aquisição de de medicação e para apoio alimentar, embora existam, na comunidade, recursos para utentes carenciados, como a cantina social e o banco alimentar.
Contudo, importa salientar que o apoio domiciliário constitui uma das respostas sociais mais requisitadas para a continuidade de cuidados após a alta hospitalar dos utentes, em particular dos pacientes idosos. No entanto, "constatámos, por vezes, uma resposta insuficiente e onerosa face aos recursos financeiros do agregado", acrescenta.
No Porto, o Centro Hospitalar de São João aponta para a estratégia de articulação com a Segurança Social, que tem vindo a contribuir para uma resposta mais atempada aos doentes que se mantém internados por motivos sociais. "Contudo, devido ao encerramento de estruturas comunitárias e de respostas sociais, denota-se consequências negativas ao nível das atividades de vida diária e na qualidade de vida dos doentes e dos familiares e tal tem tido repercussões no aumento de reinternamentos dos doentes", explica.
Em Braga, o hospital tem lidado, desde o início da pandemia, com "um aumento considerável do número de pedidos para referenciação por parte dos serviços hospitalares".
Centro de dia fechado aumenta apoio domiciliário
O estado de emergência e o dever geral de recolhimento domiciliário levaram à suspensão do funcionamento dos centros de dia para prevenir contágios de covid-19. Como alternativa, o Ministério do Trabalho e Segurança Social determinou atribuir uma majoração na comparticipação financeira da Segurança Social para as situações em que seja possível domiciliar o apoio que, até então, era prestado nos centros de dia. Assim, garante-se que "os utentes continuam a beneficiar de acompanhamento e cuidado", explica o Ministério. O Governo não avançou ao JN a adesão a esta medida de apoio e os hospitais queixam-se das poucas respostas aos utentes idosos que solicitam o acompanhamento domiciliário.
Regras para utentes de lares terem alta
Norma será revista
A DGS vai rever a norma para os utentes de lares internados. Não podem ter alta com teste positivo após 10 dias sem sintomas.
Sem isolamento
Os utentes que saiam do lar por menos de um dia para exames ou tratamentos clínicos não precisam de cumprir isolamento.